Ontem, dia 31 de março, foi um dia histórico no Brasil. Pessoas de todos os estados foram às ruas para protestar contra o golpe em curso – impeachment sem crime de responsabilidade é golpe! – e relembrar 64.
Acompanhei as manifestações em João Pessoa, Paraíba. O evento foi dividido em quatro polos, quatro locais distintos do centro da cidade, que depois se reuniram e se concentraram no Ponto de Cem Réis.
Fui ao Polo Eletrônico, no Liceu Paraibano, onde, já no fim da tarde, havia uma grande concentração de pessoas. A polícia fechou as ruas para os transeuntes. Me impressionou ver tanta gente diferente, um verdadeiro retrato do povo brasileiro. Associações de mulheres negras, movimentos LGBTs, adolescentes, idosos. Professores, estudantes, funcionários públicos, autônomos, ambulantes que estavam a trabalho e protestando ao mesmo tempo – alguns de vermelho. Nada do que vimos anteriormente nas manifestações pró-impeachment, a elite branca, classe média, organizada e sem graça.
Um grupo numeroso, intitulado “Advogadas, advogados e juristas pela democracia”, segurava faixas e distribuía uma cartilha explicando seu posicionamento contra a postura da OAB, que não consultou as bases ao fazer o pedido de impeachment.
Interessante foi observar que nenhum veículo da grande mídia estava cobrindo o evento, que contou com 15 mil pessoas, segundo a organização. Vi uma câmera ou outra, mas sem identificações. Quando eu ia entrevistar os manifestantes, algum invariavelmente me perguntava se eu era da Rede Globo, pois muitos se recusavam a dar depoimentos para a emissora.
O evento foi claramente pacífico, não cheguei a ver nenhum tipo de tumulto ou briga. Na caminhada rumo ao Ponto de Cem Réis, as pessoas gritavam “A verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura”. Outros alvos dos manifestantes foram o deputado Eduardo Cunha e o vice-presidente Michel Temer.
No Ponto de Cem Réis, com um palco montado, houve intervenções de artistas e militantes políticos. Memorável a fala do governador Ricardo Coutinho (PSB) sobre o golpe e os escândalos políticos. “Lula já é bem grandinho e sabe se defender. Não quero saber de um imóvel no Guarujá que há seis meses ninguém comprova se é dele ou não. Quero saber de um apartamento em Paris onde um político mantinha a amante. A Paraíba, que nunca se calou, não terá dessa vez um governador covarde”. Houve falas também da Professora Maria Luiza Alencar, advogada e diretora do Centro de Ciências Jurídicas da UFPB. Por fim, show de artistas e bandas como Cátia de França e Escurinho, Cabruêra, Totonho e os Cabras, Fuba, entre outros.
A presença de militantes de outros partidos e diversos movimentos sociais só mostrou o que já sabíamos: a manifestação não foi pelo PT, como gostam de dizer os golpistas, e sim pela legalidade e pela manutenção do estado democrático de direito.