Entre 1º de maio e 16 de setembro, mais de cem vídeos impulsionados promovendo Pablo Marçal (PRTB) circularam no TikTok. Esses vídeos, que prometem prêmios em dinheiro para quem criar cortes que promovam a imagem de Marçal, acumularam mais de 1 milhão de visualizações. Os anúncios também incluíram pedidos explícitos de voto para o ex-coach.
A campanha de Marçal utilizou contas registradas em diversos países, como Brasil, Espanha, Reino Unido, Portugal, Alemanha, Suíça, França, Irlanda, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo. A informação foi confirmada por um levantamento do NetLab da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que analisou bibliotecas de anúncios desses países. Todos os anúncios foram veiculados em português.
Em agosto, a Justiça Eleitoral determinou a suspensão dos perfis de Marçal nas redes sociais, alegando que os concursos de cortes, que recompensam os criadores de conteúdo com base em visualizações, configuravam abuso de poder econômico e desequilíbrio na eleição.
Apesar da proibição de anúncios políticos no TikTok em muitos desses países, o NetLab identificou 108 anúncios relacionados a concursos de cortes, solicitações de voto e promoção da imagem de Marçal. A pesquisa cobriu todos os candidatos à Prefeitura de São Paulo, mas somente os vídeos promovendo Marçal foram encontrados.
Esses anúncios deveriam estar restritos aos países com uma população brasileira de cerca de 1,2 milhão. No entanto, os mesmos vídeos que foram promovidos na Europa também estão circulando no Brasil como conteúdo orgânico, nas mesmas contas que financiaram os anúncios fora do país, conforme informações da Folha de S.Paulo.
Um exemplo é um perfil que comprou anúncios na Espanha para promover vídeos em que Marçal promete pagar por cortes. Esses vídeos também estão acessíveis no Brasil através do mesmo perfil.
“Põe aí pra mim que eu quero fazer a semana, eu quero fazer um curso de cortes. Já que a pessoa não quer prosperar aprendendo a riqueza, prospera pelo menos ganhando 10 mil, 20 mil por mês só com a minha imagem, tá autorizado. Você entra no meu sistema de cortes, pega só o que tô falando, não precisa falar nada, só precisa cortar, pôr uma música certinho e uma legenda, você solta nas suas plataformas”, diz Marçal no vídeo que foi anunciado em julho.
O bolsonarista negou, no final de agosto, que tenha oferecido dinheiro para a criação e disseminação de cortes de suas entrevistas. Além disso, a campanha de Marçal também enfrentou problemas com anúncios irregulares no Facebook e Instagram.
De acordo com a legislação eleitoral, os anúncios online devem ser comprados diretamente pelo candidato ou pela campanha, exclusivamente através das plataformas que oferecem o serviço de impulsionamento. Propagandas irregulares podem resultar em multas de R$ 5.000 ou duas vezes o valor pago pelo impulsionamento. Em casos de coordenação para burlar a legislação, a candidatura pode ser cassada.
Um outro vídeo impulsionado inclui um pedido explícito de voto para Marçal. O anúncio, financiado por um usuário registrado no Reino Unido, apresenta Marçal criticando seus adversários durante um debate e, ao lado de fotos de José Luiz Datena (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB), exibe a mensagem: “Tão com medo do quê? Arregaram! 28 para prefeito”, em referência ao número de Marçal na urna.