VÍDEO: Lula tem tem microfone cortado na ONU após estourar tempo; confira íntegra

Atualizado em 22 de setembro de 2024 às 13:55
Lula em discurso na ONU. Foto: Reproduçao

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve seu discurso interrompido ao ultrapassar o tempo limite durante a Cúpula do Futuro da ONU, em Nova York, neste domingo (22). Lula criticava a falta de representatividade do Sul Global nas organizações internacionais quando seu microfone foi cortado. A medida segue a regra imposta pela ONU, que limitou o tempo dos discursos a cinco minutos.

Philémon Yang, presidente da Assembleia Geral da ONU, já havia avisado que os líderes teriam um tempo restrito para suas falas e que, se ultrapassado, os microfones seriam desligados. Antes de Lula, os representantes de Serra Leoa e Iêmen também tiveram suas falas interrompidas pela mesma razão.

Durante sua fala, o brasileiro reforçou a necessidade de “transformações estruturais” nas instituições globais, apontando falhas na governança internacional. Ele destacou que muitos órgãos internacionais não possuem a autoridade necessária para implementar suas decisões, o que enfraquece o sistema multilateral.

O presidente criticou o esvaziamento de instâncias como a Assembleia Geral e o Conselho Econômico e Social, além de ressaltar a perda de legitimidade do Conselho de Segurança da ONU. Segundo ele, o órgão falha ao aplicar duplos padrões ou ao se omitir em crises internacionais, o que agrava os problemas globais.

Lula também mencionou a pandemia, os conflitos na Europa e Oriente Médio, a corrida armamentista e as mudanças climáticas como exemplos das limitações das instâncias multilaterais. O Palácio do Planalto divulgou a íntegra do discurso que o presidente havia preparado para o evento.

Veja o vídeo e confira o discurso na íntegra:

 

Agradeço ao Secretário-Geral António Guterres pela iniciativa de promover esta Cúpula do Futuro.

Cumprimento a Alemanha e a Namíbia, por meio do chanceler Olaf Scholz e do presidente Nangolo Mbumba, por conduzirem o processo que nos trouxe até aqui.

Há quase vinte anos, o então Secretário-Geral Kofi Annan nos convidou a pensar em como revigorar o multilateralismo para fazer frente aos desafios do novo milênio.

Naquela ocasião, ressaltei nesta tribuna a necessidade de reformas para que a ONU pudesse cumprir seu papel histórico.

Aquela reflexão conjunta rendeu frutos como a Comissão de Consolidação da Paz e o Conselho de Direitos Humanos.

Outras ideias não saíram do papel.

Temos duas grandes responsabilidades perante aqueles que nos sucederão.

A primeira é nunca retroceder.

Não podemos recuar na promoção da igualdade de gêneros, nem na luta contra o racismo e todas as formas de discriminação.

Tampouco podemos voltar a conviver com ameaças nucleares.

É inaceitável regredir a um mundo dividido em fronteiras ideológicas ou zonas de influência.

Naturalizar a fome de 733 milhões de pessoas seria vergonhoso.

Voltar atrás em nossos compromissos é colocar em xeque tudo o que construímos tão arduamente.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos e caminham para se tornarem nosso maior fracasso coletivo.

No ritmo atual de implementação, apenas 17% das metas da Agenda 2030 serão atingidas dentro do prazo.

Na presidência do G20, o Brasil lançará uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza para acelerar a superação desses flagelos.

Na COP28 do Clima, o mundo realizou um balanço global da implementação das metas do Acordo de Paris.

Os níveis atuais de redução de emissões de gases do efeito estufa e financiamento climático são insuficientes para manter o planeta seguro.

Em parceria com o Secretário-Geral, como preparação para a COP30, vamos trabalhar por um balanço ético global, reunindo diversos setores da sociedade civil para pensar a ação climática sob o prisma da justiça, da equidade e da solidariedade.

Nossa segunda responsabilidade comum é abrir caminhos diante dos novos riscos e oportunidades.

O Pacto para o Futuro nos aponta a direção a seguir.

O documento trata de forma inédita temas importantes como a dívida de países em desenvolvimento e a tributação internacional.

A criação de uma instância de diálogo entre Chefes de Estado e de Governo e líderes de instituições financeiras internacionais promete recolocar a ONU no centro do debate econômico mundial.

O Pacto Global Digital é um ponto de partida para uma governança digital inclusiva, que reduza as assimetrias de uma economia baseada em dados e mitigue o impacto de novas tecnologias como a Inteligência Artificial.

Todos esses avanços serão louváveis e significativos.

Mas, ainda assim, nos faltam ambição e ousadia.

A crise da governança global requer transformações estruturais.

A pandemia, os conflitos na Europa e no Oriente Médio, a corrida armamentista e a mudança do clima escancaram as limitações das instâncias multilaterais.

A maioria dos órgãos carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões.

A Assembleia Geral perdeu sua vitalidade e o Conselho Econômico e Social foi esvaziado.

A legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que ele aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades.

As instituições de Bretton Woods desconsideram as prioridades e as necessidades do mundo em desenvolvimento.

O Sul Global não está representado de forma condizente com seu atual peso político, econômico [neste ponto, o microfone foi cortado e Lula encerrou a fala] e demográfico.

A Carta da ONU não faz referência à promoção do desenvolvimento sustentável.

Precisamos de coragem e vontade política para mudar, criando hoje o amanhã que queremos.

O melhor legado que podemos deixar às gerações futuras é uma governança capaz de responder de forma efetiva aos desafios que persistem e aos que surgirão.

Muito obrigado.