Nunca foi tão prejudicial respirar em SP nos últimos 10 anos, diz estudo

Atualizado em 25 de setembro de 2024 às 16:17
Céu de São Paulo carregado por poluição no início de setembro. Foto: Fábio Vieira/Estadão

O estado de São Paulo registrou em 2024 os piores níveis de poluentes inaláveis da década, segundo dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Esses poluentes, como as partículas finas (MP 2,5) e maiores (MP 10), são invisíveis e altamente nocivos à saúde. Originados, principalmente, de queimadas e atividades industriais, os níveis destes contaminantes ficaram muito acima das metas de qualidade do ar.

Os números são alarmantes. As concentrações de MP 2,5 ficaram 42% acima da meta estipulada pela Cetesb, enquanto o MP 10 superou em 51% os limites estabelecidos. A análise considerou apenas estações de monitoramento contínuo entre 2014 e 2024, e mais da metade dessas estações registrou recordes para partículas finas neste ano. Para o MP 10, 16 das 36 estações monitoradas também marcaram recordes.

Ribeirão Preto, no interior do estado, foi um dos municípios mais afetados, registrando níveis de emergência em agosto, com concentrações 3.000% acima da meta para o MP 10 e 2.500% para as partículas finas. Outras cidades com picos alarmantes foram Santa Gertrudes, Catanduva, São José do Rio Preto, Rio Claro, Paulínia e Jundiaí.

Na capital paulista, a situação não é diferente. A estação Ponte dos Remédios, na marginal Tietê, marcou o pior índice de MP 10 no dia 11 de setembro, com um nível 41,70% acima do recomendado. Em Itaim Paulista e Congonhas, os índices ficaram 31% e 14% acima da meta, respectivamente. Para as partículas finas, a concentração mais elevada também foi na estação da marginal Tietê, com 85% acima da meta.

Céu de SP ficou alaranjado por causa de poluição. Foto: Danilo Verpa/Folhapress

O impacto dessas partículas no ar está relacionado à seca prolongada e ao aumento das queimadas no Brasil, que afetam diretamente a saúde da população.

O patologista Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP, alerta que a respirar um ar entre MP 10 e MP 2,5 está associada ao aumento de doenças respiratórias, cardiovasculares e até mesmo câncer. “A exposição ao MP 2,5 equivale a fumar cigarros de forma constante”, afirmou o especialista em entrevista à Folha de S.Paulo.

Segundo Saldiva, as partículas finas, formadas principalmente nas queimadas, podem se tornar aerossóis ao entrar em contato com radiação UV, penetrando profundamente nos pulmões e se espalhando pelo corpo, o que pode gerar substâncias cancerígenas. “O grupo mais vulnerável são bebês e idosos, que têm o sistema imunológico mais frágil”, alertou o médico.

A atual situação da qualidade do ar em São Paulo, embora crítica, já era previsível, de acordo com Saldiva. “Com o aumento das queimadas nos últimos anos, não foi surpresa que chegássemos a esse ponto”, disse. “Agora, teremos que trabalhar o dobro para reverter essa situação.”

Os dados que sustentam essas conclusões foram extraídos do sistema Qualar, da Cetesb, e analisados com base em médias diárias de amostras coletadas entre 2014 e 2024.

Eles foram comparados com os padrões de qualidade do ar estabelecidos por decreto estadual de 2013, que definem metas diárias de até 100 microgramas por metro cúbico para o MP 10 e 50 microgramas por metro cúbico para as partículas finas.

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