A ocupação das escolas em SP, segundo um novo documentário que está no YouTube. Por Cidinha da Silva

Atualizado em 10 de abril de 2016 às 21:29

Alunos de escola ocupada recitam “Negro Drama”, dos Racionais

 

“Razões nós temos. Nós não somos rebeldes sem causa!” Essa é uma das reflexões feitas pelos jovens secundaristas que ocuparam as escolas públicas estaduais da cidade de São Paulo, no final de 2015, em resistência à autoritária reorganização escolar imposta por Geraldo Alckmin.

Dezenas de moças e rapazes nas escolas e centenas deles nas ruas enfrentaram com galhardia uma secretaria de educação inflexível e uma força policial violenta durante 26 dias heroicos, iniciados em 06 de outubro de 2015.

O processo foi registrado pelo cineasta argentino Carlos Pronzato e resultou no documentário “Acabou a paz, isso aqui vai virar o Chile”, disponível online.

Durante uma hora de duração do filme o expectador acompanha cenas do movimento estudantil de resistência e desobediência civil que tomou conta de São Paulo, conquistou o Brasil e também a simpatia internacional. Além de influenciar movimentos similares em Goiânia e no Rio de Janeiro.

Tem acesso também às vozes de sociólogos, educadores, analistas políticos, sindicalistas, representantes de associações estudantis, ativistas políticos, jornalistas independentes que analisam o movimento, seus vínculos com as manifestações de junho 2013 e  desdobramentos.

Mas ouve, principalmente, a voz dos estudantes que discutem a precariedade do sistema de educação paulista expressa na demissão de professores, superlotação de salas de aula, prédios abandonados. Livros e alimentos trancafiados e em processo de deterioração dentro dos prédios escolares.

Pronzato, realizador de “A rebelião dos Pinguins, estudantes chilenos contra o sistema”, de 2007, fez de “Acabou a paz, isso aqui vai virar o Chile”, um registro do protagonismo juvenil como personagem central. O movimento dos estudantes é mais destacado do que os indivíduos, as lideranças.

Esse movimento buscou o governo estadual na tentativa de dialogar antes da ocupação. Enviou abaixo-assinados, conseguiu apoio de vereadores, tentou agendar reuniões, mas nada deu certo. Não foi ouvido. Não foi considerado.

Restou apenas a alternativa de ocupar as escolas e as ruas. O documentário nos mostra a organização política horizontal construída pelos estudantes em cada escola ocupada e a surpresa causada ao governo Alckmin e à polícia militar que os reprimiu de maneira covarde e violenta.

Mostra também o processo de politização de muitos jovens que, antes do movimento de resistência à reorganização das escolas eram alheios à política, como se nota em alguns depoimentos. E, ao construí-lo alimentaram o mundo adulto com mais esperança no futuro.