VÍDEO: “Me declarei culpado por ter feito jornalismo”, diz Assange em 1° discurso após sua libertação

Atualizado em 1 de outubro de 2024 às 8:05
fundador do Wikileaks, Julian Assange, dá depoimento no Conselho da Europa em Estrasburgo, leste da França; é a primeira declaração após sua libertação. Foto: Pascal Bastien/AP.

O fundador do Wikileaks, Julian Assange, declarou nesta terça-feira (1º) que só foi libertado após anos de prisão porque se declarou culpado de praticar “jornalismo”. Ele ressaltou que a liberdade de expressão enfrenta agora uma “encruzilhada sombria”.

“Não estou livre hoje porque o sistema funcionou. Estou livre hoje depois de anos de prisão porque me declarei culpado de jornalismo”, disse Assange ao órgão de direitos do Conselho da Europa em Estrasburgo, quebrando o silêncio pela primeira vez desde a sua libertação em junho da prisão de Belmarsh, em Londres.

 

Publicado por @afshinrattansi
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A Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (PACE) emitiu um relatório demonstrando preocupação com o tratamento dado a Assange, afirmando que sua situação teve um “efeito assustador sobre os direitos humanos”. Nos últimos 14 anos, ele passou a maior parte do tempo escondido na embaixada equatoriana em Londres, para evitar a prisão, ou detido na Prisão de Belmarsh.

Assange foi libertado em junho após cumprir uma pena relacionada à publicação de centenas de milhares de documentos confidenciais do governo dos EUA. O acervo incluía relatos detalhados do Departamento de Estado americano sobre líderes estrangeiros, descrições de execuções extrajudiciais e coleta de informações de inteligência contra países aliados.

Desde que retornou à Austrália, Assange não havia comentado publicamente sobre seus problemas legais ou os anos em que esteve encarcerado. “Eu finalmente escolhi a liberdade em vez da justiça irrealizável… a justiça para mim agora está impedida”, declarou Assange.

“Jornalismo não é um crime, é um pilar de uma sociedade livre e informada. A questão fundamental é simples. Jornalistas não devem ser processados por fazerem seu trabalho.”

Fundador da WikiLeaks, Julian Assange, em sua chegada a Camberra, na Austrália, em 26 de junho de 2024. AFP – WILLIAM WEST

Assange explicou ainda que poderia ter perdido ainda mais anos de sua vida se tivesse decidido lutar até o fim contra seu caso. “Talvez, no final das contas, se tivesse chegado à Suprema Corte dos Estados Unidos e eu ainda estivesse vivo… eu poderia ter vencido”, afirmou. “Mas, nesse meio tempo, perdi 14 anos em prisão domiciliar, embaixada, cerco e prisão de segurança máxima.”

Durante esse período, “terreno foi perdido”, lamentou, ressaltando que hoje vê “mais impunidade, mais segredo e mais retaliação por dizer a verdade”.

Na audiência do comitê jurídico do PACE, Assange destacou: “A liberdade de expressão e tudo o que flui dela está em uma encruzilhada sombria”. E concluiu dizendo: “Vamos todos nos comprometer a fazer a nossa parte para garantir que a luz da liberdade nunca se apague, que a busca pela verdade continue viva e que as vozes de muitos não sejam silenciadas pelos interesses de poucos.”