O fundador do Wikileaks, Julian Assange, declarou nesta terça-feira (1º) que só foi libertado após anos de prisão porque se declarou culpado de praticar “jornalismo”. Ele ressaltou que a liberdade de expressão enfrenta agora uma “encruzilhada sombria”.
“Não estou livre hoje porque o sistema funcionou. Estou livre hoje depois de anos de prisão porque me declarei culpado de jornalismo”, disse Assange ao órgão de direitos do Conselho da Europa em Estrasburgo, quebrando o silêncio pela primeira vez desde a sua libertação em junho da prisão de Belmarsh, em Londres.
Publicado por @afshinrattansiVer no Threads
A Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (PACE) emitiu um relatório demonstrando preocupação com o tratamento dado a Assange, afirmando que sua situação teve um “efeito assustador sobre os direitos humanos”. Nos últimos 14 anos, ele passou a maior parte do tempo escondido na embaixada equatoriana em Londres, para evitar a prisão, ou detido na Prisão de Belmarsh.
Assange foi libertado em junho após cumprir uma pena relacionada à publicação de centenas de milhares de documentos confidenciais do governo dos EUA. O acervo incluía relatos detalhados do Departamento de Estado americano sobre líderes estrangeiros, descrições de execuções extrajudiciais e coleta de informações de inteligência contra países aliados.
Desde que retornou à Austrália, Assange não havia comentado publicamente sobre seus problemas legais ou os anos em que esteve encarcerado. “Eu finalmente escolhi a liberdade em vez da justiça irrealizável… a justiça para mim agora está impedida”, declarou Assange.
“Jornalismo não é um crime, é um pilar de uma sociedade livre e informada. A questão fundamental é simples. Jornalistas não devem ser processados por fazerem seu trabalho.”
Assange explicou ainda que poderia ter perdido ainda mais anos de sua vida se tivesse decidido lutar até o fim contra seu caso. “Talvez, no final das contas, se tivesse chegado à Suprema Corte dos Estados Unidos e eu ainda estivesse vivo… eu poderia ter vencido”, afirmou. “Mas, nesse meio tempo, perdi 14 anos em prisão domiciliar, embaixada, cerco e prisão de segurança máxima.”
Durante esse período, “terreno foi perdido”, lamentou, ressaltando que hoje vê “mais impunidade, mais segredo e mais retaliação por dizer a verdade”.
Na audiência do comitê jurídico do PACE, Assange destacou: “A liberdade de expressão e tudo o que flui dela está em uma encruzilhada sombria”. E concluiu dizendo: “Vamos todos nos comprometer a fazer a nossa parte para garantir que a luz da liberdade nunca se apague, que a busca pela verdade continue viva e que as vozes de muitos não sejam silenciadas pelos interesses de poucos.”