Um terço dos alimentos produzidos no mundo vai para o lixo. Cerca de um décimo de todas as emissões de gases estufa globais da agricultura são emitidas por desperdício de comida, de acordo com novo estudo do Instituto de Pesquisa de Impactos do Clima de Potsdam, na Alemanha. Atualmente, um terço da produção jamais chega a nossos pratos.
Esta parcela pode aumentar dramaticamente, se países em desenvolvimento como China e Índia adotarem estilos ocidentais de nutrição, mostra a análise. Como se sabe, reduzir o desperdício é um modo de garantir a segurança alimentar, mas também um fator para deter o avanço de uma desastrosa mudança do clima.
Os pesquisadores analisaram tipos físicos e necessidades alimentares em diferentes cenários do passado e do futuro, levando em conta a demanda e disponibilidade de alimentos e as emissões associadas. Descobriram que enquanto a demanda mundial per capita permanece quase constante, nas últimas cinco décadas a disponibilidade de alimentos teve crescimento rápido.
“A oferta e a demanda mostram uma relação linear com o desenvolvimento humano, indicando que países mais ricos consomem mais comida do que é saudável ou simplesmente a jogam no lixo”, disse Prajal Pradhan , co-autor do estudo.
Por conta de mudanças notáveis no crescimento demográfico e de estilos de vida, as emissões de gases estufa da agricultura devem chegar a 10 gigatoneladas de CO2 em 2050. “Até 14 por cento destas emissões poderiam ser evitadas por um melhor gerenciamento da utilização e distribuição de alimentos”, afirma Pradhan. “Alterações no comportamento individual são chaves para a mitigação da crise do clima”.
As perdas de alimentos ocorrem por motivos diferentes nos países desenvolvidos e naqueles em desenvolvimento. Nos primeiros, joga-se comida no lixo e se elimina dos supermercados aqueles que não pareçam esteticamente bons para o consumo. No mundo pobre, os problemas são de infraestrutura, deste a colheita até o armazenamento e estocagem.
Alguns ambientalistas sugerem que uma parte vital da resposta da ameaça ao clima seriam métodos agrícolas com uso menos intensivo de carbono, junto com mudanças de dieta, como o consumo de menos carne. Fertilizantes liberam na atmosfera grandes quantidades de óxido nitroso, gás que esquenta o planeta 80 vezes mais rápido que o dióxido de carbono. E a produção de comida para gado e frango responde por metade de todas as emissões de carbono da agricultura e de uso da terra. Um terço de safras mundiais servem de alimentação para animais que produzem carne.
Há tendências importantes em curso, como programas de recuperação de alimentos desperdiçados em áreas urbanas, que envolvem de restaurantes a redes de supermercados – movimentos que inexistem no Brasil – e adoção de dietas veganas ou vegetarianas.
Segundo estudos, a produção de alimentos orgânicos corta pela metade as emissões de carbono, pelo uso de menos pesticidas e fertilizantes. No entanto, é ingênuo esperar que ações individuais resolvam o problema. São necessárias políticas que promovam alterações significativas. No momento, nos Estados Unidos, as vendas de alimentos orgânicos representam apenas quatro por cento das vendas totais, e a área plantada para eles menos de um por cento. Há terras, há oportunidades, falta vontade política. Por aqui, com a força da bancada ruralista, nem pensar.