Aviso: se o leitor for carioca está autorizado a pular a coluna de hoje pois já conhece bem a realidade que irei retratar.
Mas para aqueles que festejaram o resultado de domingo e estão entusiasmados com as notícias de que Michel Temer já busca montar uma equipe de peso e que “qualquer coisa será melhor afinal pior que está não fica”, aconselho uma subida na laje para apreciar o Rio de Janeiro, estado sob o governo do PMDB há quase dez anos.
Desde que passou para as mãos de Sérgio Cabral, em 2007, o endividamento do Estado cresceu 112% e chegou a cinematográficos R$ 107 bilhões.
Hoje a saúde está terminal. Faltam medicamentos nas unidades de Pronto Atendimento e hospitais públicos chegam a suspender o atendimento.
Sem verbas, a Fundação de Amparo à Pesquisa interrompeu estudos sobre o zika vírus.
Na rede pública de ensino, professores estão em greve há quase dois meses e na manhã de ontem (18 de abril) mais sete escolas foram ocupadas por estudantes, totalizando 54 as unidades tomadas pelo movimento estudantil em vinte cidades de todo Estado.
Aposentados estão sem receber, assim como ainda falta o 13º salário de diversas categorias de servidores públicos que resolveram decretar greve geral.
Sobre segurança pública melhor nem citar. É obsceno.
Mas para os amigos, tudo. Já sob o governador Pezão, o governo do Rio assumiu no final do ano passado uma dívida de R$ 39 milhões que a Supervia tinha com a Light. A Supervia opera o transporte ferroviário e é controlada pela… tcharam!! Odebrecht.
A Odebrecht, como você está cansado de saber, é suspeita de pagar propina de R$ 2,5 milhões a Sérgio Cabral (o ex-governador que, segundo delatores premiados, também recebeu propinas da Andrade Gutierrez e gosta de fazer gracinha em restaurantes caros de Paris com o guardanapo na cabeça).
Com toda essa promiscuidade e política de isenções fiscais para as empreiteiras e empresas amigas, o governo PMDB no Rio de Janeiro deixou de recolher R$ 138 milhões apenas em ICMS.
“O colapso no Rio de Janeiro não é causado pela crise do petróleo, como alega o governo, mas pelo modelo de gestão peemedebista”, afirma o deputado Marcelo Freixo (PSOL).
É esse cenário que se quer ver ampliado para o governo federal? Michel Temer é o presidente do PMDB desde 2001 (é filiado ao partido há 35 anos). Ele não sabia de nada disso? Quando assinou as mesmas ‘pedaladas fiscais’ enquanto esteve interinamente na presidência cobrindo Dilma em viagens oficiais, o fez de olhos vendados?
A perspectiva de um governo Michel Temer é tão ruim que até mesmo aqueles que colocaram pilha no processo de impeachment agora querem ficar longe dele. No dia seguinte à votação do plenário, Temer se reuniu com Aécio Neves e Armínio Fraga.
O economista disse ‘muito obrigado’ mas declarou que não assumiria o Ministério da Fazenda. Já o neto de Tancredo Neves, com toda sua marotice, também afirmou que seu PSDB não irá ocupar cargos. “Aê Michel, tamo junto. Vai indo que eu não vou.”
Agora resta saber quando haverá outra comemoração efusiva em verde e amarelo como vimos na noite de domingo.