O mundo mudou, e isso não deveria ser surpresa para ninguém. As relações estão uberizadas nos mais diversos espaços e meios: galanteios e conquistas, jantares e almoços, compra de medicamentos, acesso a filmes, literatura, educação em geral e profissão de fé.
Os interlocutores do debate público, político ou não, deixaram de ocupar a chamada mídia hegemônica, e não faz tanto tempo assim. Hoje, são professores-palestrantes, “mentores do coaching”, influenciadores digitais e youtubers de toda ordem. Os podcasts já possuem a mesma ou até maior audiência que os canais consagrados. Estes, por sua vez, lançam programas na “podosfera” para evitar que o navio passe no horizonte.
Pensar que se pode abdicar de um público que se informa exclusivamente pela internet, apenas pela manutenção de nosso purismo, é perder a capacidade de ressonância. O campo progressista, ao se agarrar aos seus volumes teóricos oitocentistas, sem se abrir ao entendimento das novas relações de trabalho e de afeto, perde a capacidade de diálogo com uma parcela significativa do eleitorado.
O que organiza uma população em condições de tomada de poder e exercício de liderança é, e sempre foi, a criação e o fortalecimento dos sistemas de linguagem. Sem isso, não há engajamento, conscientização nem ocupação de espaços.
Guilherme Boulos aceitou o convite do “mentor da prosperidade”, Pablo Marçal, da mesma forma que foi aos podcasts Flow e Inteligência Ltda. A onda de críticas vinda do braço acadêmico da intelectualidade de esquerda se justifica pelo arcaísmo de suas ideias e, sobretudo, pelo medo de não saber em que terreno está pisando. Já a que surge dos canais da chamada mídia hegemônica é fruto de mais um lamento pela perda de espaço.
Não estou dizendo que esse formato é o ideal, mas talvez nem tudo seja passível de reparação quando se trata de uma capilaridade fluida como a das redes sociais. O método mudou, e o meio outrora consagrado jaz em sepulcro.
Agora, diante de uma sociedade caracterizada pela velocidade da informação e da busca, não se tem muito tempo para estudar estratégias. Ou se faz ou não se faz. E como Boulos está atrás nas pesquisas, a análise partiu de um cálculo simples de margem de erro: enquanto a ida à sabatina oferecia pouco a se perder, o tempo até o dia da votação é mais curto do que a própria velocidade das redes. Golaço.