Das nulidades que despontaram na comissão do impeachment no Senado, duas se destacaram: Ronaldo Caiado, com sua basta cabeleira, uma espécie de Absalão cabeça oca movido a boi e metanfetamina, e Simone Tebet, do PMDB do Mato Grosso do Sul.
Simone conquistou o coração da direita. Jorge Pontual, correspondente da GloboNews que confunde parlamentarismo e presidencialismo, se declarou fã no Twitter. Felipe Moura Brasil, blogueiro da Veja que sobe em carro de som em passeata do MBL, a considera “ótima”.
Simone impressiona. Se existe a “falsa magra”, ela é a falsa indecisa. Na bancada, interrogando os pobres convidados, frequentemente conta que está ainda pensando em seu voto, examinando as hipóteses, estudando as opções.
Na verdade, está de cabeça feita. Sempre dá um jeito, no final da contas, de sair da casinha e assumir com amor e com vontade o impedimento.
“Para mim, o que existe é um crime continuado, um estelionato eleitoral que serviu para pagar essa conta”, falou. Para Simone, a Constituição deixa claro que Dilma tem de ser julgada pelo exercício das funções de presidente da República e não apenas pelo que fez no segundo mandato.
É o chamado “conjunto da obra”, um eufemismo para vale tudo.
Advogada, professora, filha do falecido senador Ramez Tebet, 46 anos de idade, casada com um deputado estadual sul matogrossense, articulada, Simone está abraçando a chance de aparecer nacionalmente com entusiasmo.
Dia desses falou que ficava “muito incomodada com a palavra golpe”. “Não sou golpista”, reclamou. “O Supremo já disse que o processo de impeachment é o exercício da democracia”.
E então sacou do terninho um Olavo de Carvalho safra 2015: “É como dizia Lênin: acuse os adversários do que você faz. Chame-os do que você é”.
Essa frase nunca teve autoria comprovada, mas todo macartista brasileiro a repete atribuindo-a a Lênin. Quem a popularizou foi o velho Olavo. Não duvide se ele não a inventou, embora seja boa demais para um maluco especializado em escatologia ideológica.
Ser chamada de “golpista” é o menor dos problemas de Simone. Ela deveria ser menos hipócrita ao exercer seu ímpeto acusatório.
Em fevereiro, o juiz federal Leonel Ferreira determinou o bloqueio de seus bens em função de irregularidades na reforma do Balneário de Três Lagoas, uma atração turística feita quando ela era prefeita.
Segundo o Ministério Público Federal houve desvio de recursos públicos para financiar sua campanha eleitoral, veja só. A decisão também atinge alguns de seus ex-secretários municipais e a empresa que venceu a licitação e realizou a obra.
Para o magistrado, a denúncia “está bem fundamentada”, evidenciando indícios de improbidade administrativa. Teria existido um “indevido aditamento do valor da execução”. Duas empresas se interessaram e uma foi descartada “de forma indevida”.
Simone Tebet é ótima.