O voto de legenda, que antes desempenhava um papel estratégico na ampliação das bancadas legislativas, tem perdido força no Brasil ao longo dos anos. Dados das eleições municipais recentes revelam que, em 2020, apenas 4,4 milhões de brasileiros optaram por votar diretamente em um partido, sem especificar um candidato, em comparação aos 11,1 milhões que adotaram essa escolha em 2000.
Essa queda significativa evidencia uma desconexão crescente entre os partidos e a sociedade e reflete mudanças nas regras eleitorais que têm dificultado o uso do voto de legenda como ferramenta para os partidos. No entanto, PT e PL — partidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-mandatário Jair Bolsonaro — desafiaram a tendência, fortalecendo seus números de legenda devido ao cenário polarizado.
De acordo com o cientista político Murilo Medeiros, da UnB, para o Globo, a persistência do voto de legenda entre apoiadores de Lula e Bolsonaro reflete um personalismo marcante, em que eleitores frequentemente votam nos números “22” e “13”, simbolizando os líderes das siglas mais polarizadas. No entanto, a relevância do voto de legenda tem sido afetada por uma legislação de 2015, que exige que candidatos atinjam ao menos 10% do quociente eleitoral para obter uma cadeira, o que torna o voto partidário menos vantajoso.
Medeiros observa que essa mudança encoraja uma individualização das campanhas e enfraquece o papel dos partidos como intermediários entre eleitores e seus representantes.
A situação do PRTB em São Paulo exemplifica esse cenário. Impulsionado pela candidatura do influenciador Pablo Marçal, o partido registrou um aumento significativo no número de votos de legenda, de 1.932 em 2018 para 65.081 em 2022, mas ainda assim não conseguiu eleger um vereador, pois nenhum candidato alcançou o quociente eleitoral mínimo.
Partidos maiores, como o PT, que historicamente incentivavam o voto de legenda, também enfrentaram desafios com a mudança das regras. Após a crise interna que atingiu o partido em 2016, o número de votos de legenda para o PT caiu drasticamente, mas vem se recuperando, com um aumento de 8,6% neste ano. Já o PL, impulsionado pela filiação de Bolsonaro em 2021, viu um crescimento de 133,3% nos últimos quatro anos.
Ainda que PT e PL tenham registrado aumentos significativos, a força do voto de legenda não se traduziu em maior número de cadeiras. Partidos do Centrão, como MDB, PP, PSD e União Brasil, continuam liderando a quantidade de vereadores eleitos no país, sugerindo que esses partidos têm estratégias eleitorais mais eficazes e diversificadas.
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