A razão para Serra ter concedido um passaporte diplomático ao pastor Samuel Cássio Ferreira e outro à mulher dele, a pastora Keila Costa, é agradar, mais do que aos evangélicos de maneira geral, aos chefes Temer e Eduardo Cunha.
Ferreira está sendo investigado na Lava Jato, acusado de de usar sua filial da Assembleia de Deus em Campinas para lavar dinheiro de propina para Cunha.
Mais um feito da era Temer: é a primeira vez, desde o começo da operação, que um investigado sem prerrogativa de foro recebe esse benefício.
O Itamaraty se desdobrou para justificar a mordomia, sem sucesso. O decreto 5.978, de 2006, não prevê que líderes religiosos possam ter o documento, reservado a presidente e a vice-presidente da República, ex-presidentes, governadores, ministros, ocupantes de cargo de natureza especial, militares em missões da ONU, ministros do STF, o procurador-geral da República, juízes brasileiros em tribunais internacionais, entre outros.
Samuel e a patroa passam a ser, agora, “agentes do governo” e ganham uma série de regalias. Têm passagem livre pela fiscalização no embarque e desembarque em países com os quais o Brasil tem relação diplomática.
Em alguns países, dispensa-se a exigência do visto de entrada. É mais fácil de fugir do país, também.
A igreja de Ferreira, segundo a Procuradoria Geral da República, teria recebido depósitos que somam R$ 250 mil oriundos de esquema de Cunha.
De acordo com o Ministério Público, a grana era parte dos 5 milhões de dólares pagos a Cunha como contrapartida por ter facilitado a contratação de dois navios-sonda para a Petrobras.
O texto de Janot menciona que a vinculação de Cunha com o templo é “notória”. Samuel é irmão de Abner Ferreira, pastor da Igreja Assembleia de Deus Madureira, no Rio de Janeiro, frequentada por Cunha. Foi ali que ele celebrou a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados”.
Temer compareceu a pelo menos dois cultos pelo aniversário de Ferreira, em 2013 e 2014. Postou fotinho no Facebook. No de 2013, José Serra também estava presente.
Samuel estava no grupo de líderes religiosos que abençoou Michel Temer no Palácio do Planalto na posse. Silas Malafaia foi a estrela do evento.
Na eleição de 2012, Serra contou com o apoio de Samuel no segundo turno contra Fernando Haddad pela prefeitura de São Paulo.
Serra, como virou praxe entre os ministros do interino, faz burrada em prazo recorde. A notícia do agrado ao simonista ocorreu no mesmo dia que ele fez um discurso de posse apontando “novas diretrizes” nas relações exteriores.
Pau nos bolivarianos, acenos para a Argentina de Macri, “com a qual passamos a compartilhar referências semelhantes para a reorganização da política e da economia”. Vamos “atender à sociedade, não a um partido”. Etc.
Um leão da diplomacia, um gigante. Na verdade, o novo pau mandado do imortal Cunha e da gangue fundamentalista e corrupta que atirou o Brasil na Idade Média.