Carta aberta a Janaína Paschoal. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 1 de agosto de 2016 às 13:18
Janaína em seu momento supremo no golpe
Janaína em seu momento supremo no golpe

Cara Janaína:

Leio que você se sente esquecida pelos homens a quem ajudou no golpe com seu parecer a favor do impeachment.

Você foi usada. Você foi comprada. Por 45 mil reais o PSDB obteve de você uma peça que suprimiu 54 milhões de votos e interrompeu uma democracia tão jovem.

Saiu barato para os liderados pelo Decano do Golpe, FHC, e seu Robin, Aécio. Cada real empregado neste projeto matou quase mil votos.

E esqueceram você.

Não se desespere, porém. Você será eternamente lembrada por brasileiros numa quantidade infinitamente maior do que a soma de todos os golpistas.

Pertence já à história o espetáculo em que você, como que possuída, girava a cabeça para lá e para cá. Prometia matar a cobra, se me lembro.

Só não foi o espetáculo mais patético do golpe porque, não muito tempo depois, deputados corruptos agarrados a bandeiras disseram sim ao golpe em nome da família quadrangular, dos maços, dos filhos e netos.

Também, lembremos, em nome de pais e maridos. O marido homenageado foi preso por corrupção no dia seguinte. O pai louvado teve o mesmo destino algumas semanas depois.

Não fossem os deputados, a performance em que você abateu um réptil, previsivalmente viralizada nas redes sociais, seria o retrato perfeito do golpe.

Você será lembrada para sempre não como uma jurista, mas, e temos aí ao menos uma rima, como uma golpista que se comportou como uma fâmula da plutocracia.

Você excluiu do grupo que a largou o senador Aloysio Nunes. Cuidado, Janaína. Um internauta notou, depois de saber disso, que a companhia do senador Aloysio é a pior forma de solidão que um ser humano pode enfrentar.

Mulheres usadas e abandonadas costumam comover. A literatura está cheia de casos assim. Ana Karenina ainda hoje nos comove. Emma Bovary também. Gostaríamos de abraçá-las e confortá-las em face de um universo masculino tão canalha.

Mas você é um caso especial. Seu infortúnio não emociona. Não provoca lágrimas de solidariedade. Gera, antes, um tipo de satisfação. É como se, afinal, alguma justiça tivesse sido feita. Em vez de choro, risadas, ou mesmo gargalhadas, e aquele brado imortal: “Bem feito!”

Montaigne escreveu que a maldade traz seu próprio castigo. Penso nesta frase e acho que ela se aplica perfeitamente a você.

Não a esqueceremos.

Sinceramente.

Paulo