É bonito o cinismo do ministro Eliseu Padilha ao dizer que a gestão do interino não está envolvida no esquema para salvar o mandato de Eduardo Cunha.
“A independência entre os poderes faz com que essa pergunta não possa ser respondida pelo governo e, sim lá pelo Legislativo”, afirma.
“Interferência do governo é zero. O interesse que se tem hoje é que as instituições funcionem e a Câmara dos Deputados está funcionando normalmente.”
Padilha falava sobre a abdução de Tia Eron, do PRB, na votação do Conselho de Ética. Na véspera, ele e o presidente do partido de Tia Eron, ministro Marcos Pereira, se reuniram.
A sessão foi suspensa quando se notou que, com a ausência dela, quem votava era o suplente pau mandado de Cunha.
A oposição, sedizente preocupada com a operação, quer um encontro com Temer para ouvir mais mentiras. Ele mente, os outros fingem que acreditam.
A lealdade a Cunha passa pelo serviço prestado na aprovação do impeachment na Câmara, mas trata-se principalmente de uma questão de sobrevivência de Temer.
Em dezembro, ele arquivou um pedido de afastamento de Michel Temer baseado na assinatura de pedaladas. Sua ascendência sobre a Câmara é enorme e escandalosa.
Cunha sempre operou para os deputados (numa delação premiada, ele aparece junto à OAS pedindo dinheiro também para o atual ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves). Pode inviabilizar votações. E pode, eventualmente, cair atirando.
Teori Zavascki levou cinco meses para acatar o pedido de afastamento do homem da presidência da Câmara. Nesse período, ele obteve a medalha de ouro do impeachment.
Se mantiver o padrão, Teori vai se omitir até o resultado no Conselho de Ética. Enquanto isso, Cunha continua fazendo o que sempre fez, impunemente, e com todo o apoio da gangue de Temer.