“Eu não sou velha. Porque eu tenho a juventude comigo. Eu tenho a comunidade GLTB comigo. Tenho os velhos comigo, os negros, os índios, os trabalhadores, as mulheres, eu tenho vocês. E juntos temos um sonho. E os sonhos não envelhecem”.
A lendária quadra dos bancários, de onde ela saiu como uma azarã das prévias do PT para vencer a eleição e tornar-se a primeira prefeita de São Paulo, em 1988, estava abarrotada de gente neste sábado, 11, no lançamento da pré-candidatura de Luiza Erundina à prefeitura pelo PSOL.
“Quando vencemos as prévias, neste mesmo espaço, contra o candidato da cúpula do partido, 28 anos atrás, eles disseram: ‘você com a sua teimosia está comprometendo o projeto da esquerda’. Eu então respondi. Pois aguardem para ver o que vai acontecer”.
Agora, segundo Erundina, a conversa se repete.
“Estão dizendo a mesma coisa: que vamos dividir a esquerda e, com isso, vamos abrir espaço para a direita reacionária e conservadora, mas esquecem que a esquerda somos nós”.
Aos 82 anos, Erundina acredita mesmo que representa o campo libertário e comprometido com a ética na política e o espírito público nesta eleição.
“São dois campos opostos, antagônicos”, diz ela. “De um lado está a direita atrasada e golpista, sem compromisso com o povo. Do outro estamos nós. Queremos ser o contraponto da campanha, levando a população a acreditar que é possível fazer diferente, com comprometimento e desejo de transformação”.
A candidata fala em radicalizar a democracia, distribuindo o poder através do planejamento regional do orçamento, de um efetivo controle público através da participação popular e principalmente do fortalecimento das subprefeituras.
Também entende que São Paulo, pela sua importância, precisa de um gestor que pense a cidade de forma ampla e complexa.
“Nunca ouvi do prefeito, tampouco do governador do Estado, uma declaração sequer mais convincente sobre a crise econômica ou sobre problemas como segurança e desemprego. São temas relacionados ao cotidiano das pessoas e que o prefeito tem por obrigação estar atento”, diz ela.
“São Paulo precisa ter voz sobre questões estratégicas que estejam relacionadas aos seus moradores. A complexidade da cidade exige mais que fazer pista de bicicleta”.
O golpismo do presidente interino Michel Temer embalou a maioria dos discursos.
“Em primeiro lugar, fora Temer”, começou o deputado Chico Alencar, que veio do Rio de Janeiro para prestigiar o lançamento da pré-candidatura.
Alencar citou o publicitário Carlito Maia para alertar que a representante do PSOL é um diferencial numa eleição em que os demais candidatos sofrem de “nanismo moral”.
“Ele dizia que quando a ‘esquerda começa a contar dinheiro é porque acabou’. É isso que vimos nos últimos anos: uma degradação que levou a população a desprezar a atividade política. Hoje o grande partido político do país chama-se PDP – Partido dos Desencantados pela Política. São esses que nós devemos conquistar”.
Também do Rio de Janeiro veio o deputado estadual Marcelo Freixo, pré-candidato do partido à capital do Estado.
Freixo lembrou do educador Paulo Freire, que foi secretário de Educação de São Paulo durante a gestão de Luiza Erundina, para destacar o caráter didático da pré-candidata.
“Luiza Erundina representa a certeza de que a cidade pode ser melhor em áreas como a saúde, a educação e a mobilidade urbana”, disse.
Pré-candidata em Porto Alegre, Luciana Genro destacou que Erundina é um símbolo da democracia brasileira e que representa a negação das castas políticas e da velha esquerda, que construiu o “seu espaço por meio da política de alianças com o conservadorismo, dando margem para que os meios de comunicação tradicionais, especialmente a TV Globo, investissem num projeto de desmoralização da esquerda no país”.
Erundina em São Paulo, Freixo no Rio e Luciana Genro em Porto Alegre alinhavaram uma estratégia comum caso seja mantida a decisão de excluírem os candidatos do PSOL nos debates durante as campanhas: prometem colocar um caminhão de som na porta das emissoras e comentar os debates ao vivo, com auxílio de militantes através da redes sociais.
“São coisas assim é que vão diferenciar as candidaturas do PSOL”, comentou o pré-candidato a vice de Erundina, deputado Ivan Valente. “Nós ainda podemos andar na rua de cabeça erguida, sem medo de sermos linchados pela população”.