As punições para brigas que envolvem torcedores na Europa são rígidas. Lá, quando esses espetáculos de selvageria ocorrem, os valentões ficam impedidos de frequentar os estádios e são obrigados a se apresentar em delegacias de polícia nos dias e horários de jogos.
Mais importante: também as equipes (sejam times ou seleções) sofrem sanções que muitas vezes implicam na exclusão temporária de competições. Por isso vez ou outra vemos brigas fora das dependências dos estádios, nas praças e ruas.
Então o que explicaria as recentes sessões de pancadaria ocorridas nas arquibancadas da atual edição da Eurocopa? Por que os ânimos tão acirrados a ponto de ignorarem as centenas de câmeras espalhadas? Em pouco mais de uma semana os jogos Turquia X Espanha, Hungria X Islândia, Croácia X República Tcheca e principalmente Russia X Inglaterra proporcionaram espetáculos deprimentes de pessoas digladiando com uma naturalidade medieval.
Resposta: o cenário político atual está traduzido ali.
O esporte é um excelente termômetro, um medidor ágil, um reflexo da guinada ultranacionalista que estamos vendo mais acentuadamente na Europa com a ascensão de partidos como a Frente Nacional na França, o Ukip no Reino Unido, o AfD na Alemanha, o FPO na Austria, o DPP na Dinamarca, o Jobbik na Hungria (mas os discursos – e sucesso – de Donald Trump revelam que esse sentimento já atravessou o oceâno).
Com seus discursos de intolerância, racismo e xenofobia, essas organizações de extrema-direita provocam comportamentos histéricos de reação ao ‘outro’, ao ‘estrangeiro’. Foi inflamado por um radicalismo separatista e por aversão a entrada de refugiados que um idiota patriota como Thomas Mair assassinou na semana passada a deputada Jo Cox que defendia a permanência do Reino Unido na União Européia.
O plebiscito sobre a a contunidade dos britânicos no bloco europeu será nesta quinta-feira e o tema da imigração tem sido mais explorado do que os aspectos sobre a economia.
A intransigência de mentes como a de Thomas Mair, que tem seu sentimento de superioridade afagado pelos pronunciamentos irresponsáveis de gente como Trump ou a filha de LePen que destilam preconceito e arrogância, resulta no agravamento do quadro dos refugiados.
Enquanto uma parte sensata sensibiliza-se e sugere união para solucionar os conflitos que já produzem mais de 65 milhões de ‘deslocados’ pelo mundo (são refugiados, pessoas em busca de refúgio ou migrados de seu território, segundo relatório da ONU), outros desejam construir muros em torno de si. Para efeito comparativo: 65 milhões é mais que uma Italia inteira.
Com apenas 70 anos desde o fim da Segunda Guerra, é surpreendente o retorno de um sentimento nacionalista que reduziu a Europa a uma pilha de escombros e na morte de milhões de pessoas. Esse bairrismo que enxerga o outro como inimigo se exacerba nas canchas futebolísticas que mais parecem teatros de ensaio. Elas estão dando o sinal de que algo desandou no molho da civilização globalizada.