O retorno do folhetim erótico de nossa articulista anônima

Atualizado em 22 de junho de 2016 às 17:36
Um quadrinho de Giovanna Casotto
Um quadrinho de Giovanna Casotto

Nota: o DCM começou a publicar em outubro de 2015 um folhetim erótico. Contos com uma mesma protagonista: A cada semana, um novo capítulo de suas memórias.
Reais ou não? Nunca saberemos.
A advogada e escritora anônima está de volta.
Os textos não são recomendados para menores de 18 anos.

No último capítulo, Marcos convenceu-se de que tinha o direito de se aborrecer porque eu decidira chupar a minha amiga. Saiu batendo a porta. Eu dei de ombros e continuei a chupar a minha amiga, até render-me à vontade estúpida, de tão forte, de atacar Vicente com todos os meus tentáculos.

O velho escritor interrompeu minha lascívia por qualquer motivo que não me poderia ocorrer. Empurrou-me com uma expressão decidida, quase desconcertada, como quem aprendeu a resistir aos próprios ímpetos, mas não tanto quanto gostaria.

Ele não freou apenas a minha língua, freou o erotismo na minha alma, que havia despertado tão facilmente com a ideia antes absurda e agora muito mais do que estimulante.

Estive convencida, portanto, durante estes meses em que este folhetim adormecia no meu computador, de que nenhuma aventura sexual merecia ser documentada, de que isso não passava de uma ideia louca advinda de um velho louco.

Mas e o meu prazer? E o prazer que compartilho com este diário? E a minha certeza antes tão absoluta de que posso fazer qualquer coisa, de que nenhum instinto me pode ser calado?

Voltemos, leitores.

Neste momento, o velho está parado a minha frente, no segundo imediatamente posterior ao segundo em que conseguira me deter, atônito e visivelmente aborrecido:

– O que diabos deu em você? Acha que o mundo é uma grande suruba? Eu e Marcos somos amigos. Amigos, você compreende?

– Meu senhor, não seja tolo. Não pertenço a ele, como não pertenço a ninguém. O senhor por acaso pertence?

O velho enrubesceu, como se a qualquer momento lhe fossem sair fumaça das orelhas, e partiu em retirada.

Quando se deu conta de que esquecera suas bugingangas, voltou com os mesmos olhos febris e desconcertados, e encontrou-me parada na sala, de pé, na mesma posição, com os mesmos olhos cínicos que ainda lamentavam tamanha tolice moralista.

Recolheu tudo muito nervosamente e seguiu o rastro de Marcos.

O escritor maluco abandonou o barco. Os homens são fiéis uns aos outros, pensei, ainda mais fiéis do que são a uma boceta.

Não, esqueça. Uma boceta é demais para alguns; supera quase toda lealdade, a menos que isto envolva uma espécie de ética masculina incompreensível, algo que se confunde com o ego, a obrigação moral de deter tudo o que pareça libertário demais para uma mulher. Eles estão tão ocupados provando para si mesmos que são os melhores que não conseguem tirar o melhor de nós.

Tudo isto me ocorreu em um intervalo de cinco minutos, mas, no fundo, eu jamais poderia saber por que, afinal, o velho cortou as minhas asas.

O fato é que precisei escrever eu mesma as minhas aventuras sexuais, sem poupá-los de nenhum detalhe, já que ele fez questão de me despertar os instintos e sair destrambelhadamente da minha sala.

Faço isso desde então, às vezes sendo fiel à verdade, e às vezes sendo fiel apenas à minha imaginação erótica, que não deixa de ser verdade, à sua maneira. (Eu não trepo todos os dias, tolinhos. Apenas pulo as partes desinteressantes, como um favor para vossas punhetas.)

Não lamentei a partida de Vicente, como não lamentei a de Marcos. Nenhum deles tem o que eu quero, aliás, jamais encontrei um homem que de fato o tivesse, o que talvez explique a minha promiscuidade.

Homens que compreendem que o sexo não deve ser racionalizado são uma espécie em extinção. Metem sempre como máquinas de ego, com caras e bocas patéticas, de tão falsas.

Só me servem para matar o tédio, eu confesso, porque jamais encontrei um homem que compreendesse que quando me dispo, eu sou apenas uma boceta. Não a Doutora Boceta. Não a culta boceta. Não a sensível boceta. Sou apenas uma boceta, e quero o mesmo prazer que qualquer boceta merece.

Interrompi os meus próprios pensamentos. Não era hora de pensar em como resolver a minha vida sexual. Eu precisava trabalhar.

Usei uma saia lápis e camisa social, vestida como uma mulher respeitabilíssima, ao menos para os desavisados. O meu sócio estava com os pés em cima da mesa e dois botões da camisa desabotoados.

– Está na casa da sua sogra?

– Bom dia, querida.

– Bom dia. Leu os autos daquele cara que matou o irmão?

– Aquele imbecil está fodido.

– Há duas testemunhas que sabem que o irmão o chatageava frequentemente. Podemos destruir a imagem da vítima para o júri. Você saberia disso se tivesse lido.

Ele riu, cínico, porque claramente não havia lido.

– Deixa isso comigo. – disse, pegando a pasta pousada na mesa do meu sócio, que lia uma revista de música enquanto o trabalho apodrecia a sua volta.

– Você é uma putinha.

Voltei-me, incrédula, com os olhos semicerrados. Não porque não sou uma putinha – eu sou, de fato – mas porque não me lembro de termos tamanha intimidade.

Uma coisa era fazermos sexo, como tanto já tínhamos feito. Outra coisa era o filho da puta saber exatamente o que dizer e como dizer, sem o menor constrangimento, sem o menor receio. Era o atrevimento desmedido de quem sabe exatamente o que está fazendo, de quem sabe que, na cama – ou na mesa, como preferirmos – eu não quero respeito.

– Você quer parecer durona, mas é uma putinha. Foi isso o que eu disse. E aposto que a sua boceta ficou tão molhada que pode senti-la latejar agora.

Ele levantou-se, num estilo don juanesco que nunca me atraíra até aquele dia.

– Tire a roupa.

– Você está louco.

– Agora.

Minhas pernas estavam trêmulas. Ele não podia falar daquele jeito comigo, a menos que eu tirasse a roupa, porque quando tiro a roupa, eu sou apenas uma boceta, tudo se torna sexual e não há nenhuma regra.

Havia apenas uma razão para que eu o fizesse: eu queria fazê-lo, com todas as minhas forças e com todos os meus poros.

Desabotoei a camisa com uma expressão que dizia: você não vale nada.

Em dez segundos havia apenas uma saia lápis sobre o meu corpo, na cintura, abaixo dos peitos pálidos.

– Vamos, continue. Tire tudo. Agora. Não está ouvindo?

Tirei a saia e a calcinha vermelha e pequena.

– Agora sente-se naquela mesa e abra as pernas.

Ele me analisava minunciosamente, como se fosse um expectador de todo o erotismo que circulava pela sala, como se absolutamente não tomasse parte de nada. É um bom ator, pensei, observando como ele conseguia disfarçar o tesão, não sei exatamente com que objetivo, mesmo com o seu cacete duro sob a calça social.

Enfiou o dedo na minha boceta, de uma só vez, com os olhos fincados nos meus olhos, e me fez beber do meu próprio néctar, que me pareceu delicioso, por sinal.

– Gosta?

– Gosto.

– Sabe por que você gosta? Porque é uma vadia safada.

Enfiava a língua e os dedos. Eu puxava a sua cabeça para dentro das minhas pernas, como se quisesse que ele me engolisse, e fazia movimentos compassados com os quadris. Parou imediatamente e afastou-se, enquanto cada centímetro do meu corpo implorava para que continuasse.

– Agora vista-se.

– Não – eu implorava – por favor, me chupa. Eu estava quase…

– Vista-se, vadia.

Escroto. Escroto, tão escroto que me deixa molhada só de me olhar.

Mas eu sabia como resolver.

[continua]