A guerra de nervos no PSDB dá o tom a menos de 20 dias da convenção que vai homologar o candidato do partido nas eleições municipais de São Paulo.
O publicitário João Doria, apadrinhado do governador Geraldo Alckmin, mantém a agenda de candidato, mas crescem no partido os rumores de que o seu impedimento é favas contadas.
No Ministério Público Eleitoral (MPE) correm três representações contra Dória, sendo a principal delas encabeçada por um par de tucanos de rica plumagem: o ex-governador Alberto Goldman e o senador José Aníbal.
A representação aponta irregularidades na campanha de Doria nas prévias.
Ele é acusado de abuso de poder econômico – por usar dinheiro do próprio bolso, e não recursos do partido, para a campanha.
Também pesa contra o publicitário a acusação de propaganda irregular, transporte de eleitores e infração à Lei Cidade Limpa – colocou cavaletes com foto, nome e número da chapa nas proximidades dos 58 locais de votação.
Doria nega as acusações.
Não é o que pensa o senador José Aníbal, que anda feliz nos últimos dias – vende a expectativa de que, caso as acusações se confirmem, estará provado que não houve equidade entre os candidatos das prévias e o MPE ajuizará uma ação contra Doria.
Segundo Aníbal tem dito a seus interlocutores, isso deve ocorrer quando a candidatura de Doria estiver registrada na Justiça Eleitoral, ou seja, após a Convenção do partido agendada para o domingo, dia 24.
As consequências dessa ação, segundo José Aníbal, seriam a cassação da candidatura de Doria – se for eleito, do seu diploma de prefeito, além da inelegibilidade pelo período de oito anos.
Esse risco que Doria corre não é apenas resultado da insatisfação de dois partidários do PSDB e sim de uma resistência tucana à sua candidatura.
Outros membros de peso do PSDB, como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aloysio Nunes, não apoiaram o publicitário nas prévias. Não bastasse, a Juventude PSDB se recusa a integrar a campanha – alguns membros inclusive já decidiram que vão apoiar Andrea Matarazzo (PSD).
Matarazzo deixou o PSDB após 25 anos, inconformado com as irregularidades cometidas por Doria e com as manobras do governador Geraldo Alckmin (PSDB) para levá-lo adiante.
Segundo pesquisa do Ibope, o ex-tucano aparece com 6% das intenções de voto, contra os 8% de Doria.
A Juventude organizou um ato, intitulado de “O PSDB que queremos”, comandado por José Aníbal e Aloysio Nunes, críticos da candidatura de Doria e principalmente da conduta do governador.
Alckmin e Doria contra-atacaram utilizando um “testa de ferro” – foi ao diretório municipal do partido solicitar a expulsão de membros da Executiva favoráveis a Matarazzo.
Em nota, no seu 2º Congresso Nacional, neste fim de semana, a Juventude criticou o partido, numa clara alusão ao governador, afirmando que “as circunstâncias podem seduzir os tucanos a trilharem o caminho mais fácil, isto é, o caminho dos tradicionais partidos da nossa velha política: fisiológico nos projetos, despolitizado na ideologia e autoritário no método”.
Preocupado com a crise, e entendendo que o sucesso da candidatura Doria é o pontapé inicial no seu objetivo de conquistar a presidência da República em 2018, Alckmin já pensa em alternativas para minimizar os “efeitos” da representação de José Aníbal e Goldman.
Uma delas é lançar uma candidatura pró-forma para concorrer com Doria na Convenção do dia 24.
A idéia se sustenta na tese de que, sendo a prévia mero instrumento de consulta interna, e havendo disputa na Convenção, estariam nulos os atos praticados por Doria na disputa com o deputado federal Ricardo Tripoli e com o vereador Andrea Matarazzo.
Um dos principais especialistas em direito eleitoral do país, o advogado Alberto Rollo entende que a iniciativa é correta.
“Para efeito legal, o que vale é a Convenção partidária”, diz ele. “Não há como anular uma Convenção que teve disputa entre dois representantes. Previas são canais de consulta, onde se mede a tendência dos filiados em relação ao que será definido na Convenção. Esta é soberana”.
Seja como for, o fato é que o PSDB chega dividido às vésperas da escolha do seu candidato na eleição da principal cidade do país.
De um lado, Geraldo e o seu sonho alicerçado em vôo solo e no discurso dos 3 esses: suor, saliva e sola de sapato.
De outro, FHC, Serra & cia mal acostumados: como têm preguiça de fazer política pra valer, indo às ruas no corpo a corpo com a base, contaram com a imprensa amiga para disseminar a tese de que o ideal para o partido seria Andrea Matarazzo.
Como não funcionou, recorrem à Justiça para tentar levar no tapetão.
Qualquer semelhança com o “papelão” golpista que estão protagonizando no plano nacional, contra a presidente Dilma, não é mera coincidência.