O milionário mercado da educação privada está se lixando para o ensino. Por Mauro Donato

Atualizado em 18 de julho de 2016 às 12:35

escola ocupada

 

O mercado do ensino superior é um negócio para lobo de Wall Street nenhum botar defeito. E desde que foi alavancado pelo Fies, o programa federal que financia estudantes de baixa renda, aí então a coisa mudou totalmente de patamar.

Mas como essa turma arrota neoliberalismo depois de jantar em verbas estatais, a crise econômica e a redução do programa Fies previstas no governo Temer causam um certo agito nesse milionário mercado.

Na última sexta-feira, os acionistas da Estácio (sim, acionistas, essas empresas têm capital aberto em bolsas de valores), preocupados com Michel Mãos de Tesoura e a queda no número de matriculados, aprovaram colocar em votação a fusão com o grupo Kroton. A Kroton é a maior empresa do setor no país e no mundo. A Estácio é a segunda maior do Brasil e já estava sendo sondada também pelo grupo Ser Educacional há alguns meses.

Os números impressionam. Considerando apenas o primeiro trimestre deste ano (no qual todos denunciam a crise com aquela cara de velório), a empresa Kroton teve receita líquida de R$ 1,27 bilhão (lucro líquido de R$ 505,9 milhões). A Estácio apresenta receita líquida de R$ 793 milhões (lucro líquido de R$ 128,5 milhões) e a Ser Educacional, receita líquida de R$ 285 milhões (com lucro líquido de quase R$ 86 milhões). A operação Kroton/Estácio está estimada em R$ 5,5 bi e irá criar um gigante com 1,5 milhão de alunos. A Ser Educacional, de cofre cheio, irá agora atrás de outras intituições de esino para comprar.

Para além da hipocrisia desses segmentos que vivem pregando as virtudes da iniciativa privada mas que, sem ajudinha da União, esperneiam mesmo diante de lucros espetaculares – assim como faz a indústria automobilística há décadas – a fusão e concentração do ‘negócio’ nas mãos de poucos é de grande preocupação.

Para operar em escala, o sistema é todo padronizado. Desde a ‘apostilização’ do material didático até em instalações, tudo visa o baixo custo e otimização. Assim não há qualidade que resista. Grande parte desses grupos já pratica um ensino num nível mínimo exigido pelo Ministério da Educação. Têm nota abaixo de 3 numa escala até 5.

A educação como um todo perde na medida em que essas fábricas de alunos ganham. O mesmo se dá na saúde e o governo de Michel Temer deixa bem claro desde os primeiros dias que fará o possível para manter essas engrenagens bem azeitadas. Logo propôs uma “desvinculação das despesas obrigatórias” para estabelecer um “teto nas despesas públicas”, incluindo a educação.

Sucatear o que já é ruim é sua contribuição para com esse mercado de intuitos obscenos. As quatro maiores empresas de educação com capital aberto (Kroton, Estácio, Anima e Ser Educacional) têm um desempenho de retorno sobre o capital investido muito superior à média das empresas que negociam suas ações no mercado. O estudo foi realizado por uma consultoria a pedido de uma federação de professores de São Paulo, a Fepesp.

Para justificar os cortes que fará no Fies, o governo Temer alega que o programa cresceu e se tornou um ‘Frankenstein’. E esses conglomerados gigantescos que se preocupam mais com o bolso dos acionistas de que com o ensino, que transformam educação em commodity, são o que?

Enquanto o país for governado por quem trata educação como ‘despesa’ e não investimento na formação da população e delegar tal tarefa a investidores capitalistas, teremos donos de escolas na lista da Forbes e um ensino pé de chinelo.