Como os clubes brasileiros aceitam uma relação com a CBF em que são tão prejudicados?
Ladies & Gentlemen:
Em minha imersão voluntária no futebol brasileiro, descobri uma aberração. O campeão brasileiro está, virtualmente, impedido de defender o título, uma vez que a prioridade é completa para a Taça Libertadores da América. Isso significa que o campeão quase que apenas entra em campo em boa parte do Brasileirão.
Nas conversas com o Boss, em geral em meio a algumas pints no precioso pub na Parsons Green, ele usa uma palavra em português com frequência que para mim é impossível pronunciar sem cair no ridículo. Pataquada. Ele não achou um sinônimo à altura, e nem eu.
Pois mesmo Chrissie, minha mulher, que discorda de mim em tudo, concorda que um campeão ser impedido de disputar o bi é uma pataquada. Simplesmente não imagino meu City renunciando às nossas justas pretensões vitoriosas nesta temporada há pouco inaugurada apenas porque foi campeão na anterior.
O Boss falou que é um problema de calendário, mas tenho para mim que a explicação está menos nisso e mais na habitual pequenez dos responsáveis pela administração do futebol brasileiro. Falo da CBF e dos dirigentes.
O campeão tende a ceder mais jogadores para a seleção, por motivos óbvios. E quando estes jogadores são convocados para caça-níqueis inúteis como os amistosos recentes do Brasil contra o Iraque e o Japão o prejuízo para o clube é enorme. Alguém acredita que Kaká, para ficar num caso, foi efetivamente testado?
Como inglês que sou, um ser pragmático e sem mais que poucos e passageiros espasmos de culpa pelo nosso passado imperial, pergunto: como os times aceitam ceder atletas para jogos absurdos em datas em que têm compromissos importantes?
A CBF está atrás de um dinheiro que, como bem mostra meu amigo Andrew Jenning, jornalista com um trabalho sensacional pela transparência no esporte, sabemos bem onde vai terminar.
E os times, por que se acoelham diante de tamanho disparate?
Meu Santos, por exemplo. Tive o trabalho de fazer as contas. Com Neymar em campo, o aproveitamento é de campeão. Sem ele, é o que temos visto. O drama é que, se não errei na matemática elementar, Neymar – que gol soberbo fez na quarta este gênio das quedas malandras e dos gritos engana-juízes – disputou apenas nove partidas pelo Santos.
Onde os Andrews Jennings no Brasil para levantar a bandeira da racionalidade e da decência no calendário do futebol?
Ladies & Glentlemen: apenas mais um segundo de sua atenção.
O futebol brasileiro, isso aprendi, é grande apesar da CBF e não por causa dela.
Yours, sincerelly.
Scott
TEXTO TRADUZIDO POR ERIKA K. NAKAMURA