Viralizou nas redes sociais um excelente artigo da jornalista Eleonora de Lucena na Folha.
Eleonora foi editora executiva do jornal durante dez anos. Hoje, é repórter especial.
Ela não falou nada de novo, a rigor. Contou, com ênfase, os horrores que a plutocracia está promovendo no Brasil. Não só agora, mas ao longo da história. Em 1954, no golpe contra Getúlio, e em 1964, na derrubada de Jango, para ficar em dois casos.
Nada, a rigor, que você não tenha lido várias vezes no DCM, por exemplo.
O que realmente chama a atenção é a impotência de jornalistas como Eleonora dentro das redações das grandes empresas de mídia.
Nada, rigorosamente nada do que ela escreveu se reflete no jornalismo plutocrático da Folha de S. Paulo.
A Folha simboliza o mundo pútrido que ela tão bem descreveu. O escândalo do DataFolha foi apenas um entre tantos casos de canalhice editorial do jornal a serviço das mamatas e privilégios de um pequeníssimo grupo ao qual os Frias pertencem.
O verdadeiro motto da Folha deveria ser este: um jornal a serviço da plutocracia. E não, como aparece na sua primeira página, um jornal a serviço do Brasil.
No seu artigo, Eleonora disse que a elite dá um “tiro no pé” com seu comportamento que mistura ganância e miopia em doses extraordinárias.
Mas observe: onde ela escreveu elite poderia ter dito, tranquilamente, Folha.
Pois o que a Folha vem fazendo, sistematicamente, senão dar tiros no pé em seu alinhamento com a plutocracia primitiva brasileira?
Poucas semanas atrás, num seminário em Londres, o dono e editor da Folha Otávio Frias ouviu de uma jornalista britânica um diagnóstico devastador sobre a mídia brasileira.
Em sua perplexidade boçal, ele acusou a jornalista de petismo, e ainda conseguiu dizer que sentia falta de um tucano na mesa ali em Londres. (Um leitor do DCM notou que ele próprio, Otávio, já representava o PSDB.)
A imagem de jornal plural e moderno que a Folha construiu desde o início dos anos 1980 foi destruída quando a Folha se engajou no jornalismo de guerra contra o Lula, Dilma e o PT.
Publicar artigos como o de Eleonora é um truque para fingir pluralismo.
Na verdade, o que o texto mostra é que jornalistas como Eleonora têm influência zero na linha editorial.
Cada empresa jornalística suprimiu a seu modo as vozes dissonantes e progressistas. A Globo e a Abril (Veja) se desfizeram de jornalistas que não ajam como fâmulos dos patrões. O caso emblemático da Globo é o do diretor de novas mídias Erick Bretas, que chegou ao cúmulo de usar a foto de Sérgio Moro como avatar no Facebook, no qual postava inflamadas convocações para protestos pelo impeachment.
A Folha agiu diferente. Manteve-os, mas encostados e sem voz. Alguns mais inconformados deram o fora, como Xico Sá.
Este o maior valor do texto de Eleonora: mostrar o deserto frustrante que a Folha é para jornalistas de esquerda.
Está claro que o jornalismo de guerra da Folha matou o próprio jornal.