Parece deboche o processo instaurado no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados contra Jean Wyllys essa semana, baseado na representação encaminhada pelo PSC, de Feliciano, Bolsonaro e Everaldo.
Em vez de o partido se concentrar em ajudar a polícia a esclarecer o envolvimento de seus membros na acusação de estupro e cárcere privado de uma jovem 22 anos, ocupa o Conselho de Ética com suas infâmias.
Em 20 tenebrosas páginas, repletas de erros de concordância, lógica e humanidade, o partido cristão que faria Jesus chorar de desgosto acusa Jean por quebra de decoro parlamentar, por dizer a verdade: que os discursos de ódio de Bolsonaros e Felicianos contra LGBTs incentivam a violência contra LGBTs.
O objeto da denúncia é uma postagem no Facebook de Jean que contém esse trecho:
“Quando criticamos os discursos de ódio dos ‘bolsomitos’ e ‘malafaias’ e ‘felicianos’ e ‘euricos’ e das ‘marisas lobos’ e ‘ana paulas valadões daida e do legislativo contra gays, lésbicas e transexuais, estamos pensando justamente no quanto o discurso de ódio proferido por essas pessoas – agora em alta porque aliados dos golpistas que tomaram a presidência da República – pode levar pessoas “de bem” a praticar atos de violência física – assassinatos e agressões físicas – contra membros da comunidade LGBT.
Delírios homofóbicos reproduzidos por políticos e líderes religiosos mentirosos – como a ideia de que gays, lésbicas e transexuais queremos impor uma ‘ideologia de gênero’ ou praticamos ‘cristofobia’ – podem levar a barbárie como a perpetrada, em atacado, na Flórida, mas também à praticada no varejo aqui no Brasil.”
Não há nada além da verdade no texto que Jean escreveu. Jair Bolsonaro deve saber disso, pois ele mesmo é explícito quando diz que “filho gay é falta de porrada”.
E quando um pai espanca o filho até a morte por achá-lo afeminado? Acontece com frequência no Brasil. A porrada nesse caso teria sido muita? Um pouco menos teria garantido um filho heterossexual? Qual a medida o deputado que exalta a memória de torturadores propõe?
E Feliciano, que já disse numa rede social que “a podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam ao ódio e ao crime”?
Por essas e outras a representação do PSC não parece nem hipócrita, mas sim cínica.
Não se trata de fingir valores que não cultivam, mas de tripudiar sobre eles, como no trecho do documento que fala em “construir uma sociedade com respeito às divergências”. Cinismo puro.
O cinismo cultivado pelos “bolsomitos”, que na falta de amor e de interpretação de texto, se comprazem quando chamados de opressores.
O processo contra Jean não dará em nada, a menos que a liberdade de expressão seja proibida também fora das arenas olímpicas. Mas só de pensar que represetações como essa ocupam o tempo de assessores, advogados e parlamentares diversos pagos com dinheiro público, podemos invejar os ruminantes.