O protesto de ontem contra o governo Temer resultou em mais um punhado de abusos de autoridade, violência gratuita e alguns feridos.
O caso mais grave foi o da estudante Deborah Fabri que no famigerado cruzamento das ruas Caio Prado e Consolação foi atingida por um estilhaço de bomba de efeito moral que quebrou a lente de seus óculos e perfurou seu globo ocular.
Deborah é estudante da Universidade Fedearal do ABC e ativista do Levante Popular da Juventude. Ela não quer dar depoimentos ainda mas escreveu em seu perfil na rede social: “Estou bem agora. Perdi a visão do olho esquerdo mas estou bem.”
Aquele cruzamento em que milhares de pessoas foram violentamente atacadas em 2013, em que o fotógrafo Sergio Silva perdeu o olho, ontem mais uma vez foi palco para outra tragédia. Até quando vai isso?
A noite não terminou bem para muitos profissionais da imprensa. Os fotógrafos Taba Benedito e Gustavo Oliveira foram atingidos por uma balas de borracha, mas pior sorte tiveram Willian Oliveira e Vinícius Gomes.
Ao registrarem a ação, foram abordados, agredidos, tiveram seus equipamentos danificados e depois levados para a delegacia. Ambos ficaram por 3 horas algemados na viatura, com Vinícius sangrando.
“O policial ainda falou que na próxima vez que me encontrar vai ‘terminar o serviço’”, disse Willian que foi obrigado a deletar as imagens do cartão de memória.
“O Rocam parou a moto do meu lado e disse ‘é você’ e começou a me bater, sem nenhum motivo”, afirmou Vinícius na saída da delegacia. Ele tomou 4 pontos na cabeça e teve sua câmera esmigalhada.
O público não viu nada disso na TV. Até porque, para a Secretaria de Segurança nada aconteceu. Em sua nota oficial apenas um policial ficou ferido (o policial que Willian e Vinícius estavam fotografando após a queda da moto).
Mas há no mínimo sete pessoas feridas, alguma com gravidade como Deborah Fabri e mais os casos não registrados. Eu mesmo testemunhei um Rocam jogar a moto em cima de um pedestre que fotografava com o celular na calçada.
Além da cronologia invertida dos fatos em que aparece primeiro o ‘quebra-quebra’ e depois a ação da polícia, há o discurso de ‘confronto’ sendo que apenas um dos lados está paramentado e armado. Isso é confronto?
Repito pela milionésima vez: a polícia ataca primeiro em 90% das vezes e a consequência é o caos que se instala em meio a bombas, tiros, fumaça, perseguições de motos, blindados, helicópteros.
Se o que ocorreu ontem com Deborah ou com os fotógrafos freelancers tivesse ocorrido com alguém da grande mídia teríamos um repeteco de 2013? Como há os protestos a TV não tem como esconder, porém ela constroi uma narrativa de acordo com os seus interesses.
Mais uma manifestação contra o golpe irá ocorrer neste final de tarde de hoje. Dependendo do resultado, você verá uma cobertura na TV. Dependendo da vítima, verá outra.