No período eleitoral é comum os candidatos apresentarem promessas que mais se assemelham a soluções mágicas que propostas eficazes para os problemas da comunidade. Reiteradas em debates, entrevistas e comícios, não passam de meras invenções de marqueteiros para atrair votos para seus candidatos.
Um clássico em São Paulo é o Corujão da Saúde, de João Doria (PSDB).
O projeto, que sequer é citado em seu plano de governo oficial, consiste em uma eventual parceria com hospitais da rede privada para, utilizando suas dependências durante a madrugada, atender a população das 20h às 8h. Numa área caótica como a saúde, em que há dificuldades de se fazer funcionar o que já existe, lançar um factoide desses é uma quase irresponsabilidade.
Não faz muito tempo, em 2013, uma criança de quatro anos morreu de uma grave inflamação abdominal depois de passar por três unidades municipais de saúde e receber sempre o mesmo diagnóstico: virose.
Na verdade, a criança apresentava apendicite e, por conta da negligência dos médicos que a atenderam, acabou indo a óbito. Morreu por puro descaso dos profissionais que ali estavam.
Ninguém dá muita atenção para casos assim.
Pacientes que morrem por erro médico no setor público viram apenas mais um dado nas estatísticas do governo, até que chega o período eleitoral e os candidatos tiram soluções da cartola sem ao menos investigar quais são os principais problemas a serem resolvidos e quais medidas são as mais eficazes – obrigar os médicos a cumprir o horário de serviço, por exemplo, já seria um bom início.
Já Celso Russomanno (PRB) acena com a proposta de aumentar o salário dos médicos.
Segundo ele, para atrair mais profissionais para as periferias, eles ganharão mais de R$ 20 mil e cada um tratará de 200 famílias no programa “Saúde da Família”. É a mesmíssima proposta da sua última campanha municipal, em 2012.
No último debate, na Rede TV, Russomanno ainda disse que não aumentaria as tarifas do transporte público nos quatro anos da sua gestão. Muitos antes dele já disseram o mesmo em outras oportunidades e descumpriram o trato. Difícil imaginar que o candidato do PRB possa ser uma exceção à regra.
Marta (PMDB) também vem se esmerando nas propostas esdrúxulas.
Acuada por Fernando Haddad (PT), que acabou com a Controlar, a candidata do PMDB tem a cara de pau de ir à TV dizer que a inspeção veicular voltará, mas de forma opcional e gratuita, sendo que a pessoa que optar por realizar o procedimento vai ganhar desconto no IPTU.
Como era de esperar, Marta não especifica como vai arrumar dinheiro para implantar e manter o serviço sem custo aos motoristas, tampouco quais benefícios pode gerar para a cidade uma ideia de jerico como essa. Mas, especificar para que, se o que está em jogo é apenas um trololó para iludir o eleitor com mais uma proposta que jamais será colocada em prática?
O horário político na TV deixa evidente que a maioria das promessas serve apenas para disfarçar a falta de compromisso dos candidatos com a cidade e com as pessoas.
Resignada, já que aprendeu a não esperar nada dos políticos, a sociedade acaba deixando as propostas passarem batido, isso quando elas não viram piada.
É por sermos assim, cúmplices e negligentes, que acabamos por gerar uma classe política medíocre e sem o menor pudor de mentir compulsivamente.
A consequência não poderia ser outra senão o desmando e a corrupção.
No Fantástico mundo de ex-Marta, Controlar voltará, opcional, vai ter que pagar, mas é gratuita #SeEnrolou #Martaxa pic.twitter.com/iivjKthVI6
— Nossa, nossa, Nossa! (@mimfoi) 7 de setembro de 2016