Fernanda Gentil não cabe no Estatuto da Família. Por Marcos Sacramento

Atualizado em 1 de outubro de 2016 às 8:23
Fernanda e a namorada, a jornalista Priscila Montandon
Fernanda e a namorada, a jornalista Priscila Montandon

 

Por incrível que pareça, a internet recebeu com carinho a revelação do namoro da jornalista Fernanda Gentil com a também jornalista Priscila Montandon. Anônimos e famosos desejaram felicidades ao casal e deram parabéns à “saída do armário” da apresentadora do “Esporte Espetacular”.

“Uau, que coragem e que lindo Fernanda Gentil falar em público e declarar seu novo amor!”, escreveu um internauta no Twitter.

A mesma rede social foi usada para Luana Piovani manifestar seu apoio. “Pessoas chocadas com o namoro da Fernanda Gentil. Pra mim, chocante é você esconder sua felicidade e não poder amar quem ama. Parabéns, Fer!”, escreveu a atriz.

Houve algumas mensagens de reprovação, previsíveis nos antros de indigência que se tornaram os espaços de comentários das páginas de notícias, porém minoria em relação aos gestos de apoio.

Durante a noite a jornalista postou um textão no Facebook no qual relata como foi seu dia após tornar público seu relacionamento homoafetivo. Entre relatos da sua rotina, ela cita um comentário chato, muitas mensagens lindas, um telefonema carinhoso do pai e termina o post deixando explícita a ideia de que sua vida permanece intacta depois da divulgação da notícia.

“O mundo? Não acabou… e aliás vai continuar existindo, independentemente da roupa que vestirmos, da cor do nosso cabelo ou da nossa pele. Mas dependendo do que fizermos, ele pode não só simplesmente existir, e sim ser um lugar melhor para os nossos filhos. Agora deixa eu ir porque o inglês do Lucas vence amanhã e ainda não paguei, tem roupa do Gabriel pra lavar e a Nala continua passando mal – e essas coisas sim, são capazes acabar com o meu mundo. De resto, boa noite”, encerra o texto com ares de final feliz.

No momento em que escrevo este texto o post de Fernanda tem 51 mil curtidas e 4 mil comentários. Entre um hater gritando ali e um religioso indignado acolá, a maioria deles são de felicitações ao casal, formando uma corrente de respeito difícil de se ver nesses tempos de recrudescimento da intolerância.

A decisão de Fernanda divulgar seu namoro termina com clima de felicidade, mas fora da bolha da internet a realidade é menos colorida. Mesmo que as duas decidam viver juntas e ter filhos, correrão o risco de não serem consideradas uma família, de acordo com o Estatuto da Família.

Elaborado pelo deputado Anderson Ferreira (PR/Pernambuco), o PL 6583/2013 define “entidade familiar como o núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou união estável, ou ainda por comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.”

O projeto de Lei, que poderá privar os casais gays de direitos fundamentais ao inseri-los em um limbo jurídico, está parado na Câmara de outubro do ano passado, após ser aprovado na Comissão Especial sobre o Estatuto da Família por 17 votos a cinco. O passo seguinte é a análise do projeto e possível votação no Plenário da Câmara.

Não é preciso ser cientista político para saber que a grande maioria dos parlamentares pensa bem diferente das pessoas que neste momento enviam mensagens de apoio a Fernanda Gentil.

Para eles, duas mulheres se amarem é o fim do mundo. A grande tragédia disso tudo é que ao contrário dos comentadores de internet, o pensamento desses sujeitos pode influenciar nas vidas das duas jornalistas e de inúmeros outros casais homossexuais.