O agente Lucas Soares Dantas Valença ganhou o status de celebridade instantânea ao escoltar Eduardo Cunha como se estivesse indo com um tio esquisito a um bate-volta no Guarujá.
De camiseta, calça jeans e coque, ele ganhou o apelido de “Hipster da Federal”, tirando do condenado Newton Ishii o posto de estrela da classe.
Invadiram suas contas nas redes sociais e descobriram que: 1) ele é gato; 2) ele gosta de reggae e de cerveja; 3) ele vai muito à praia; 4) ele é tatuado; 5) ele é coxa.
Em 2014, Valença escreveu no Facebook: “Não sei quem foram os felas que a colocaram lá! Mas faço questão de fazer parte de quem vai tirar!” Abaixo, uma mensagem com a frase “impeachment da presidente Dilma” e uma foto.
No mesmo ano, lamentou a reeleição de Dilma, insinuando fraude nas urnas, um papo furado conspiratório amplamente difundido por xaropes como Lobão, Olavo de Carvalho, entre outros.
“Por mais que certa parte da população tenha votado nela, a despeito do seu despreparo, gagueira, insegurança, apoio de uma massa de corruptos… Eu prefiro crer que a manipulação das urnas foi o grande responsável por esse lastimável resultado”, escreveu.
O Código de Ética da PF proíbe policial de “conceder entrevista à imprensa, em desacordo com os normativos internos” e “divulgar manifestação política ou ideológica conflitante com suas funções”. Valença e os colegas que foram pilhados fazendo campinha para Aécio são a prova de que ninguém leva o tal código a sério.
Ele acabou apagando as postagens e bloqueando o perfil no Face. Mas já está imortalizado.
Ninguém obriga Valença a ser inteligente, é óbvio. Mas quis o destino que ele acabasse escoltando o sujeito que realizou seu sonho de tirar Dilma do poder.
O agente não está só. Como ele, milhares de cidadãos que torceram para o capitão do golpe tiveram de testemunhar sua queda. Gente como Kim Kataguiri, co-protagonista de uma das fotos mais estúpidas da história da República, e tantos outros que empunharam cartazes nas Paulistas da nação.
Ninguém deve se surpreender se, num momento mais discreto, o Hispter da Federal não tenha sussurrado no ouvido do que restou de Eduardo: “Obrigado por tudo”.