Temer chegou pequeno ao Planalto e está virtualmente invisível.
Não havia expectativa de que crescesse, é certo, mas ninguém imaginava que ele fosse encolher tanto em tão pouco tempo.
É uma insignificância planetária. Na reunião dos Brics ele foi simplesmente ignorado.
No plano interno, FHC, que tanto fez para colocá-lo no poder, chamou-o de pinguela. Pelo som você já vê que coisa boa não é. E não é mesmo: pinguela é uma ponte tosca, improvisada, à base de paus.
Temer é pior que as piores expectativas quer dos aliados quer dos opositores.
Seus amigos mais próximos já começam a falar no passado, e não no futuro.
O jornalista Jorge Bastos Moreno, do Globo, por exemplo, escreveu um artigo no qual disse que Temer deveria ter cortado logo o “cordão umbilical” com Cunha.
Mas como?
“Michel é Eduardo”: quem não se lembra da frase grampeada de Romero Jucá sobre os dois companheiros de anos, décadas, de uma vida.
É como querer cortar o cortão umbilical entre o vermelho e o negro da camisa do Flamengo, o time de Cunha. (Seus tuítes antes da cadeia giravam em torno da dura luta do Flamengo pelo título. Ele não perdera a esperança depois da derrota para o Inter.)
E ainda que Temer quisesse cortar o cordão: é obra para dois, não para um. Uma ligação de tal magnitude só se rompe verdadeiramente quando os dois desejam. Sobre grandes amizades como a entre Michel e Eduardo aplica-se uma bela frase de Montaigne em seus Ensaios. “As almas se entrosam e se confundem em uma única alma, tão unidas uma à outra que não se distinguem e nem se percebe a costura entre elas”.
(Montaigne escreveu um ensaio notável sobre a amizade. Dedicou-o a seu amigo La Boétie, autor de um pequeno grande livro chamado Servidão Voluntária. A morte de La Boétie mergulhou Montaigne numa “noite escura e aborrecida”. “Já me acostumara tão bem a ser sempre dois que me parece agora que não sou senão meio”, escreveu ele.)
Bem, de volta a Michel e Eduardo.
É claro que Cunha conta com tudo — menos com essa possibilidade. Não será nada divertido para ele, atrás das grades, ver seu “outro eu”, Michel, na presidência, imóvel em relação ao velho camarada.
Ele vai querer de Temer uma obediência ao clássico voto de fidelidade na alegria e na dor. Mais que querer: vai cobrar.
E assim caminha celeremente o governo Temer para seus estertores.