“Acima do conhecimento, acima das notícias, acima da inteligência, o coração e a alma do jornal residem em sua coragem, em sua integridade, sua humanidade, sua simpatia pelos oprimidos, sua independência, sua devoção ao bem estar público, sua ansiedade em servir à sociedade.”
Estou lendo um perfil de Joseph Pulitzer e me detenho na frase acima.
É uma reflexão que tem 150 anos de existência — e que, como tudo que é sábio, guarda uma atualidade completa, fresca, revigorante e inspiradora.
É uma receita perene de bom jornalismo.
E então me ocorre a fatal comparação. Os jornais brasileiros são a completa negação de Pulitzer.
Simpatia pelos oprimidos? Esqueça.
Devoção à causa pública? Esqueça.
Ansiedade em servir à sociedade? Esqueça.
Você inverte o enunciado pulitzeriano e encontra a mais perfeita definição do jornalismo nacional.
As corporações jornalísticas servem apenas a si próprias e a classe que representam — a plutocracia.
Dizer que a visão de Pulitzer é romântica é uma tolice. Ele não foi apenas o jornalista mais inovador da história. Foi, também, um empreendedor de extremo sucesso.
Sua lógica como empreendedor no jornalismo era irretocável: “Circulação significa anúncio, anúncio significa dinheiro, dinheiro significa independência.”
Sua visão de jornalismo é ainda hoje perfeita. “Para se tornar influente, um jornal tem que ter convicções, tem que algumas vezes corajosamente ir contra a opinião do público do qual ele depende”, afirmou.
Como jornalista, foi Pulitzer quem rompeu com a tradição de publicar as notícias na ordem cronológica. Ele estabeleceu a hierarquia no noticiário. Estava inventada a manchete, assim, bem como a primeira página.
Era um jornalista brilhante, ambicioso, e inevitavelmente acabou tendo seu próprio jornal, World, o maior em sua época.
E de novo a comparação me ocorre: por que os jornais brasileiros são o contrário?
Se eles seguissem alguns postulados de Pulitzer — não digo todos, que é coisa de gente grande, mas pelo menos alguns — o Brasil seria um país muito melhor. Digamos: a simpatia pelos oprimidos, que figura no topo das prioridades de Pulitzer.
Não seríamos um país tão assombrosamente desigual. Poderíamos ser talvez, como sonha o DCM, uma grande e ensolarada Escandinávia, uma sociedade próspera, igualitária, feliz.
Estaríamos livres do que Rousseau chamou de “extremos de opulência e miséria” que nos rebaixam e nos humilham.
Mas não.
Você abre um jornal brasileiro, qualquer um, e logo tem um choque de realidade. Pode ser uma revista. Ou vê um telejornal. Ou ouve uma rádio. É tudo anti-Pulitzer.
Por isso somos o que somos.