O duelo entre Temer e Calero no domingo, dia 27, pode ser resumido no semblante de cada um. No início da tarde, um Michel abatido, maldormido, ladeado pelos comparsas Renan e Rodrigo Maia, deu uma coletiva para anunciar que não haveria anistia ao caixa 2.
Teve de responder, inevitavelmente, sobre o caso Geddel. E tentou emplacar uma versão de que tentava sanar uma “divergência entre órgãos”.
Na fantasia que vendeu, ele falou ao então ministro da Cultura que encaminhasse o processo do edifício para a AGU. Era necessário resolver o problema entre o Iphan na Bahia e o Iphan nacional.
A questão é que Temer só se meteu na pendenga por causa do apartamento de seu ministro. Isso não é problema de estado. Isso é tráfico de influência.
Seu último recurso em busca de alguma empatia virou fazer piada com sua mania de usar mesóclises. Vai ter de responder por advocacia administrativa: “patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário”.
No Fantástico, diante de Renata Lo Prete, Calero era o contraste do alquebrado Michel. Admitiu que fez gravações telefônicas de membros do governo, entre eles o presidente, por sugestão da PF. Classificou o papo com Temer de “burocrático”.
Lembrou que o primeiro encontro com Michel foi bom. No segundo, ele mostrou a que veio: “Marcelo, a decisão do Iphan nos causou bastante estranheza. Não foi uma decisão correta e me causou dificuldades operacionais”.
Chamou-lhe a atenção o termo “dificuldades operacionais”, que “decorriam do fato de o Geddel ter ficado muito irritado”.
O site Conversa Afiada elencou outras declarações:
– Temer falou da ministra Grace Mendonça, “que tem conhecimento jurídico muito bom e poderia resolver a questão de um modo bom pra todos” – ele usou esse termo!
– Queria que eu criasse uma chicana para que o caso fosse enviado à AGU.
– Não sei se a ministra Grace sabia ou não.
– no final, na despedida, me chamou a atenção a declaração que ele, Temer, fez: “Marcelo, a política tem dessas coisas, dessa pressão”. Ele falou como se estivesse dando conselho ou ensinamento a alguém que acabou de entrar na política!
– Não fui desleal. O servidor público não pode ser cúmplice.
– Começaram com essa boataria do Palácio do Planalto de que eu deliberadamente fui ao encontro para gravar o Temer.
– Isso é um absurdo! Só serve para alimentar essa campanha difamatória e desviar o foco.
– Eu jamais entraria no gabinete presidencial com um ardil sorrateiro assim.
– O que fiz foi por sugestão de alguns amigos da PF: nos momentos finais, para me proteger e dar lastro probatório a tudo o que falei no depoimento, fiz algumas gravações telefônicas, com pessoas que me ligaram.
– Inclusive uma do Temer, bastante burocrática, protocolar, na qual evitei induzir o Presidente a produzir provas contra si.
– Não gravei nenhuma outra conversa com o Presidente.
– Todas as minhas gravações foram feitas por meio telefônico.
– Foram 3 encontros com Eliseu Padilha.
– Autoridades da República perdendo tempo com um assunto paroquial!
– A última ligação que recebi a esse respeito foi do Secretário Jurídico da Casa Civil – novamente insistindo pra eu mandar o caso à AGU!
– Pensei: “o Presidente queria que eu interferisse no processo!”
– Não posso dizer se gravei ou não conversas com Padilha e Geddel.
– Não desejava isso para mim, nem para o Governo.
– Eles acharam que eu faria qualquer negócio pra preservar o cargo. Jamais faria isso!
Seis ministros demitidos em seis meses. Temer disse que o substituto de Geddel terá de ser alguém com “lisura absoluta”. Ou seja, não era um critério.
Se ele não sabia do risco de nomear Geddel, tem um problema. Se sabia, pior ainda. Ainda que as gravações de Calero não contenham frases bombásticas ou explosões de fúria, elas liquidarão a fatura no sentido de mostrar a mediocridade corrupta do governo golpista.
Só não espere um jogral no Jornal Nacional.