Em agosto, quando Michel Temer tomou posse, Renan Calheiros anunciou o novo chefe de maneira triunfal.
“Declaro aberta a sessão solene do Congresso Nacional destinada a receber o compromisso constitucional e dar posse ao senhor Michel Temer no cargo de presidente da Republica”, disse.
Feito o juramento constitucional, Renan apertou as mãos de Michel de maneira efusiva e mandou ver: “Tamos juntos”.
O golpe naufragou, Michel fracassou em velocidade de cruzeiro, seis ministros caíram em seis meses — e agora Renan virou réu no STF por peculato, acusado de pagar com recursos ilícitos pensão, entre 2004 e 2006, a uma filha que teve com a jornalista Mônica Veloso.
“Chama a atenção de movimentação de quantia nada desprezível em espécie. É certo que não é proibido pagar em dinheiro, contudo a alegada opção não pode ser sumariamente desprezada”, disse o relator, o ministro Edson Fachin.
A decisão não obriga Renan a se afastar da presidência do Senado. Moralmente, porém, ele está liquidado. A Casa passa a ser presidida por alguém que responde a uma ação penal no Supremo.
O que vai sobrar do PMDB? Em nota, o partido avisou que respeita a decisão e “entende que o resultado de hoje mostra que o processo está apenas começando. Assim como para qualquer pessoa, cabe agora o direito à ampla defesa”.
Temer olha para Renan e lembra-se das palavras dirigidas a ele na posse.
Entende-se agora o nervosismo de Renan nestes últimos dias. Ao lado de Sérgio Moro, na sessão temática sobre o abuso de autoridade na quinta, declarou que “a Lava Jato é sagrada”, num gesto de claro desespero.
Para fazer-lhe justiça, teve um grande momento no final, talvez o melhor do ano. “Antes de encerrar, eu queria dizer apenas que não houve aqui agressão ao relator da matéria na Câmara dos Deputado, ao Onyx Lorenzetti”, falou, referindo-se ao deputado relator do pacote anticorrupção na Câmara.
“Parece nome de chuveiro, mas não é nome de chuveiro”.
E saiu para o abraço.