Escuta. Eu só queria saber uma coisa: Moro não tem mais o que fazer além de fuçar interminavelmente no triplex do Guarujá?
Acabo de ver um vídeo — mais um, aliás — em que Moro e os advogados de Lula batem boca em torno exatamente do triplex.
O desentendimento veio no curso do depoimento de uma testemunha de acusação — mais uma, aliás — que não disse nada, rigorosamente nada, que afetasse Lula.
Mas não foi a briga que me chamou a atenção.
Foi Moro. Foi sua maneira de administrar seu tempo e suas prioridades.
Não sou especialista no ofício de juízes de primeira instância como ele.
Mas me pergunto: Brasília em chamas por conta da chamada “delação do fim do mundo” e Moro entretido com um apartamento que é zero, ou menos que zero, se comparado a uma só linha da delação do executivo da Odebrechet?
Existe uma coisa, na vida profissional de qualquer pessoa, chamada prioridade.
Um jornalista, por exemplo. Se está cuidando de um assunto irrelevante e estoura um escândalo de grandes proporções, ele imediatamente se desloca para a cobertura que realmente importa.
Se o jornalista é chefe da redação, o resto vira nada diante de um fato novo espetacular.
Ora. Moro comanda a Lava Jato. Aparece uma delação em que o presidente da república é citado 43 vezes em situações chocantemente corruptas e ele gasta seu tempo — e o dinheiro público — interrogando uma testemunha que vai levá-lo do nada a lugar nenhum?
Moro tem chefe? Imagino que sim. Onde está esse pretenso chefe para dizer a ele: “Vai cuidar do que interessa, amigo”?
No mundo corporativo, onde militei mais de 30 anos, funcionário sem senso de prioridade tinha vida curta. Logo era demitido. Vê a árvore e não a floresta.
Mas Moro está aí, enchendo a nossa paciência com irrelevâncias enquanto o país é chacoalhado pela “delação do fim do mundo” — apenas no primeiro depoimento de mais de 70 programados.