Publicado no JornalGGN.
O crescimento de uma onda neo-nazista no Brasil confronta não apenas as origens da história nacional, como também está chamando a atenção da imprensa internacional.
O repórter da publicação norte-americana, Joe Leahy, conversou com o delegado Paulo César Jardim, responsável por uma investigação que aponta para neonazistas, no Rio Grande do Sul, candidatos ao recrutamento de extremistas de direita na Ucrânia para lutar contra os pró-rebeldes russos na guerra civil do país europeu.
“Tínhamos consciência de que alguém tinha vindo da Europa.. Um italiano… Tinha vindo ao Brasil para recrutar pessoas para a Ucrânia”, havia relatado o delegado ao Financial Times.
“A revelação, se comprovada, de que os movimentos ultranacionalistas subterrâneos do Brasil buscam experiência de combate no exterior é uma preocupante constatação de um fenômeno que chocou o país que se considera um caldeirão racial”, publicou o jornal.
Nessa linha, o diário afirma que, com mais de metade da população reivindicando pelo menos alguma herança africana, os brasileiros se orgulham das relações tranquilas entre os diferentes grupos raciais do país. Mas, por outro lado, “o aumento de neonazistas no Brasil tem desafiado um mito popular de que o racismo, pelo menos a variedade dele como é mostrada nos EUA e em outros países ocidentais, não existe lá”.
Os dados são do aumento no fluxo de ataques neonazistas e de grupos de extrema direita no país, citando o caso de ataques a uma banda de punk que defendia direitos iguais e homossexuais com facas e machado.
E é nessa onda ultraconservadora que surgem os políticos para representar estes grupos. “Enquanto a extrema-direita ainda é vista como à margem da política em um país que se libertou de duas décadas de ditadura militar apenas em meados dos anos 80, os políticos ultraconservadores e seus partidários estão dispostos a preencher um vácuo político que se desenvolveu depois do julgamento do impeachment de agosto da ex-presidente Dilma Rousseff”, diz o jornal.
Apesar de citar o deputado do PP Jair Bolsonaro como fora de exemplos do neonazismo, a reportagem do Financial Times relaciona posturas do parlamentar com os grupos extremistas. “Congressista e ex-capitão do Exército Brasileiro de extrema-direita, ganhou as manchetes no ano passado por louvar um torturador conhecido desde a época da ditadura. Também no ano passado, um grupo de ultraconservadores invadiu o Congresso e revelou bandeiras pedindo o retorno do governo militar”, cita.
Os pontos de convergências entre Bolsonaro e o neonazismo estão, entre outros, a intolerância e o racismo, continua o diário, que também mapeia onde estão localizados os maiores grupos neonazistas no país: no sul e sudeste, “regiões que receberam a maior parte dos imigrantes alemães, italianos e poloneses do Brasil”.
Também relaciona o surgimento da onda de movimentos deste tipo na América do Sul com sites de ódio na Internet. De acordo com um artigo da antropóloga Andriana Dias, da Unicamp, o Brasil de 200 milhões de habitantes tem 150 mil “simpatizantes” de movimentos neonazistas.
Para além do neonazismo em si, o jornal norte-americano exemplifica a extensão desses grupos: “nos casos mais recentes, os skinheads têm como alvo os gays na Avenida Paulista, a principal via pública em São Paulo. Em 2011, três skinheads foram condenados por tentar matar quatro pessoas, incluindo uma pessoa negra com uma prótese, com bastões e facas.”
“Estes não são criminosos comuns ou ladrões, eles têm uma ideologia. São pessoas que acreditam na limpeza étnica, na pureza racial”, contou o delegado Paulo César Jardim a Joe Leahy.