A Exame tascou Mick Jagger na capa para fazer uma defesa das novas regras da reforma previdenciária.
O líder dos Stones, garante a chamada, tem muito em comum com nosotros.
Tá lá escrito: “Talvez não seja a fortuna, nem o rebolado, nem os oito filhos. Mas, assim como Mick Jagger, você terá de trabalhar velhice adentro. A boa notícia: preparando-se para isso, vai ser ótimo”.
O absurdo da comparação e a propaganda sem disfarces provocaram uma avalanche de piadas e críticas. Virou um dos temas mais comentados do Twitter.
Se fosse uma ironia, ok. A dureza é que a Exame falou sério, apesar da fortuna do sujeito avaliada em 360 milhões de dólares.
Sem contar o fato de ele ser natural de um país que garante uma velhice decente a seus habitantes. Desde os 65 anos — está com 73 —, ele tem direito a uma pensão do governo britânico de 91 libras por semana.
Já que era para vender o peixe dessa maneira indigente, era mais fácil estampar o próprio Michel Temer na capa.
Como o cantor dos Stones, nosso MT é um fenômeno da vecchiaia festiva.
Contemporâneo de Jagger, Michel, aos 76 anos, está a mil por hora. Não canta, não encanta, seu carisma é zero, vive cercado de bandidos, é vaiado aonde aparece — mas é um idoso sacudido.
Tem energia suficiente para, por exemplo, fazer tráfico de influência para aprovar imóvel com apartamento de ministro corrupto.
Elio Gaspari lembrou, numa coluna, que ele se aposentou em 1996 aos 55. Em maio de 2015, passou a receber R$ 30 613 como procurador inativo de São Paulo. No cargo que usurpou, ganha mais R$ 27 841.
Numa conversa amigável com Miriam Leitão, fez uma defesa de sua renda — ao menos esta que é um pouco mais transparente.
“Passados 20 anos e estamos aqui conversando e acho que ainda estou bem, né? Pelo menos consigo trabalhar. A minha aposentadoria é uma revelação”, declarou.
Até hoje ninguém entendeu o que ele quis dizer com “revelação”, mas coisa boa não é. Quem tem Michel não precisa de Mick.