Temer não foi a Davos pelo motivo habitual: medo.
Durante os dias do encontro de líderes políticos e empresariais em Davos, ativistas de esquerda aproveitam para mandar suas mensagens ao mundo.
Cobri Davos duas vezes, e vi os ativistas em ação.
Temer seria um alvo óbvio, por tudo o que representa. E qualquer manifestação contra ele, em Davos, teria repercussão planetária.
Que a imagem do Brasil no mundo está imensamente desgastada pelo golpe é claro.
Você não tem nem que ouvir rebeldes anti-sistema.
A diretora-geral do FMI, Chistine Lagarde, por exemplo, fez questão de contradizer a principal autoridade brasileira em Davos, o ministro Meirelles, quando este defendia as reformas conservadoras em curso no Brasil.
A prioridade das políticas econômicas deve ser o “combate à desigualdade social”, disse Christine.
Meirelles tergiversou diante da intervenção de Christine. Ela fora clara, e ele foi obscuro — e inconvincente.
Meirelles disse que países em desenvolvimento como o Brasil têm uma “dinâmica diferente”.
Aparentemente, ele quis dizer que os brasileiros engolem tudo com sua “dinâmica diferente”.
Assim, não seria necessário grande esforço, segundo a lógica de Meirelles, para convencer os trabalhadores a aceitar medidas que imporão a eles o que a moderadora do debate definiu como “grandes sacrifícios”.
Somos passivos. Somos bovinos. Somos inútil, como diz o filósofo Roger.
Li essa notícia na BBC Brasil. Pesquisei no Google para ver se algum jornal dera a colisão de Meirelles com Christine.
Não encontrei nada.
A mídia brasileira sabe o que dá — e o que esconde.
Só falta Meirelles fazer Temer acreditar em nossa “dinâmica diferente”.
Se ele fizer isso, talvez Temer deixe de fugir de um povo que, segundo seu ministro da Economia, aceita tudo.