A misteriosa natureza da amizade entre Teori e o dono do hotel Emiliano. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 10 de março de 2017 às 15:53
Filgueiras (à dir.) com um convidado de sua mansão em Paraty
Filgueiras (à dir.) com um convidado de sua mansão em Paraty

 

Carlos Alberto Fernandes Filgueiras era um homem de muitos amizades — mas nenhuma deles tão valiosa quanto a de Teori Zavascki.

O dono do hotel Emiliano e do avião Beechcraft King Air que caiu no mar em Paraty tinha uma carreira controvertida. Era, segundo interlocutores do DCM, um lobista.

Não era apenas dono do hotel. Tinha outras empresas, como Ama Empreendimentos e Participações (capital de R$ 5 291 000), A J. Filgueiras (R$ 17,2 milhões) e Forte Mar (R$ 117 milhões).

No total, o capital social em seu nome é de R$ 147 486 000. Colecionava pendências judiciais. Uma delas, como relatado no DCM, é uma ação que corre no Rio de Janeiro e que ele tentou travar no STF.

Filgueiras era acusado de crime ambiental em sua fazenda Itatinga, na Ilha das Almas.

Em área de proteção ambiental, ergueu uma mansão. De acordo com denúncia do Ministério Público Federal, chegou a fazer uma praia artificial.

No dia 16 de dezembro, Edson Fachin, colega de Teori, negou a concessão de habeas corpus, como requeria seu advogado.

Já levou para sua propriedade gente famosa de setores diversos. José Dirceu, Jô Soares e Gilberto Gil foram vistos por lá, entre outros menos votados, mas úteis, como um vereador que virou vice prefeito de Paraty.

Em 2015, noticiou-se que Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, afirmou em delação premiada que jantou com Renan Calheiros no Emiliano no ano anterior. Renan pediu, na ocasião, propina de R$ 1,5 milhão para a campanha do filho ao governo de Alagoas.

Era sócio do BTG Pactual na Forte Mar. Na relatoria da Lava Jato, Teori tomou pelo menos uma decisão envolvendo o BTG: em novembro de 2015,  libertou André Esteves e determinou prisão domiciliar, revogada por ele mesmo em abril do ano seguinte.

A nota fúnebre do Emiliano registra que Carlos Alberto e Teori eram “amigos próximos”.

Faz sentido um ministro do Supremo Tribunal Federal cultivar uma relação perigosa desse jaez? Ele não sabia de nada?

Os dois se aproximaram em 2012, quando Teori ia a São Paulo acompanhar o tratamento de câncer de sua mulher no Sírio Libanês e se hospedava no hotel de Filgueiras. A diária, para o próximo final de semana, é de R$ 1323. Era mais caro. Quem pagava? Era na física ou na jurídica? Ou de graça?

(Em 2006, antes de se trombarem, Teori, então ministro do STJ, negou recurso impetrado pelo município de São Paulo que acusava Carlos Alberto de sonegação de IPTU. A decisão foi referendada pelo plenário).

Teori cultivava um perfil discreto e era um homem honesto. “Era um magistrado exemplar, que fazia da discrição sua marca maior e era uma pessoa gigante, com uma alma doce que Deus lhe deu e soube preservar ao longo de toda sua vida”, escreveu o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão num tocante tributo.

“A vida em Brasília é muito solitária”, diz um jurista ouvido pelo DCM. “É difícil ter um amigo. Teori era um ingênuo. Juiz é um ser humano como qualquer outro”.

Poderia ter havido um ânimo diferente por parte de Carlos Alberto? “Ministros do Supremo, hoje, são estrelas. E ficam mais vulneráveis a interesseiros”.

“Filgueiras, talvez, nem precisasse pedir qualquer favor. Não acho que Teori, de maneira alguma, tenha se corrompido. Mas o outro não precisa chegar a tanto. Basta contar por aí que viajou com Teori para a praia”.

“É humano”, afirma. Demasiadamente humano.