Até parece piada, mas José Serra, quando governador, criou uma fábrica de derivados de sangue.
Tudo ótimo na intenção, a tal fábrica do Instituto Butantan começou a subir paredes em 2008 e dois anos depois já deveria estar produzindo e auxiliando na fabricação de medicamentos para doenças como Aids.
Um pequeno lapso na origem do projeto demonstra a eficiência da gestão pessedebista. Explico. Por lei federal, o plasma sanguíneo não pode ser comercializado. O país só pode produzi-lo a partir de doações que ficam na casa dos 400 mil litros enquanto a demanda é de cerca de 500 mil. Há déficit de plasma.
Como não pode ser comprado, o acordo entre governo federal e o Butantã previa que ao instituto seriam destinados apenas o excedente da produção da Hemobras. Ora, não há excedente, nunca houve.
A produção é insuficiente portanto nunca ‘sobrou’ nada para fornecer para a tal fábrica do Instituto Butantã, órgão ligado ao governo do estado de São Paulo que, como se sabe, está em mãos tucanas há décadas.
Resumo da ópera: depois de nove anos, a fábrica está parada, sem nunca ter produzido uma gota de nada, tendo sugado R$ 239, 4 milhões dos cofres públicos e precisando de mais outros R$ 437 milhões para entrar em operação.
Este montante segundo uma auditoria, mas o tombo pode ser maior pois os equipamentos comprados ficaram abandonados durante todo esse tempo, sem inspeções ou manutenções. Em português claro, apodrecendo.
“A gente sabe que aqui no Butantan qualquer investimento dá certo”, disse José Serra à época. Pode ser verdade, só resta saber certo para quem. O monstrengo tem 10 mil metros quadrados, já era para estar produzindo desde 2010 e proporcionando economia com a importação de medicamentos.
A auditoria da Colorado Consultoria Contábil constatou também que além da inacreditável desatenção com o básico (escassez de matéria-prima), a fábrica de sangue de José Serra teria cometido outros deslizes irresponsáveis no projeto. Primeiro, a falta de um estudo econômico-financeiro que tenha substância.
“Não foram apresentados estudos de viabilidade, o que leva à dúvida se foram feitos (…) Se foram, certamente não foram feitos de forma profissional”, está no relatório. Segundo, optar por tecnologia inovadora, mas nunca testada em larga escala em nenhum outro lugar e cuja capacidade de processamento seria inferior à necessidade do país.
O Instituto Butantã – agora sob o governo Alckmin – rebate todas as afirmações da auditoria mas não consegue responder porque então a fábrica está há sete anos sem produzir absolutamente nada. E diz ainda que não tem previsão para o início das operações.
As administrações tucanas já levaram o quanto puderam com suas asas abertas sobre o metrô, trens, a merenda escolar, a Ecovias. Agora, uma fábrica de sangue que na realidade suga em vez de produzir.
O tucanato possui ampla maioria entre parlamentares na Assembléia Legislativa e sempre consegue abafar investigações e CPIs. Tem sido assim desde Mário Covas, José Serra, Geraldo Alckmin…
Se somarmos os valores de todos os escândalos envolvendo esse time aí não daria para representar numericamente neste espaço. Nem nos 10 mil metros quadrados ociosos do Butantan.