É muito provável que seja verdade até porque, para alguém na idade de José Serra, alegar dor nas costas é mamão com açúcar. Mas de concreto, o que temos é que o tucano mais uma vez em sua trajetória política abandona o ninho.
Para tornar-se ministro das Relações Exteriores do governo de Michel Temer, José Serra largou a posição de senador pela qual tinha sido eleito pelo voto popular em 2014. Agora pediu exoneração.
Uma batida de olho no currículo de José Serra faria com que ninguém se espantasse em relação a isso. Na realidade, desde 1995, quando deixou de ser deputado para se eleger senador, Serra nunca mais concluiu nenhum cargo eletivo. São 22 anos de tradição.
Naquele ano, o tucano já dava mostras de sua efemeridade diante de compromissos assumidos com a população. Seu mandato como senador durou poucos meses, abandonando-o para se tornar ministro do Planejamento de Fernando Henrique Cardoso.
E assim tem sido desde então. Faz pequenos tiros de 100 metros em ministérios de tempos em tempos enquanto ludibria as urnas.
Em 2002 deixou o cargo de ministro da Saúde para tentar a Presidência (perdeu para Lula). Em 2004 venceu a corrida para a prefeitura de São Paulo. Serra então assumiu publicamente o compromisso de não abandonar o cargo para concorrer a outro.
Chegou inclusive a assinar um documento no qual prometia cumprir os quatro anos de mandato. Dois anos depois ele abandonou a prefeitura para disputar o governo do Estado.
Quando confrontado, respondeu: “Eu assinei um papelzinho. Não era nada…” Largou a Prefeitura e então elegeu-se governador. Antes do fim do novo mandato, deixou o Palácio dos Bandeirantes para se candidatar à Presidência da República.
Com a fama de transeunte no poder público já correndo solta, em 2012 José Serra concorreu novamente à prefeitura de São Paulo e assim declarou: “Vou cumprir o mandato de prefeito por quanto tempo o mandato durar, ou seja, até 2016. Exercerei os quatro anos, isso é mais que uma promessa.” Não houve necessidade de cumpri-la. Perdeu a disputa para Fernando Haddad.
Alguma surpresa, portanto, com o fato de ele largar o posto mais uma vez? Esse movimento é para descolar-se do governo Temer visando evitar o desgaste inevitável dos próximos meses e lançar-se candidato em 2018? Ou as delações da Odebrecht já estão lhe dando dores de cabeça, dores nas costas, dores de barriga?
Serra é citado por executivos da empreiteira como destinatário de R$ 23 milhões em doações irregulares via caixa dois para sua campanha presidencial (oficialmente, a Odebrecht declarou ter doado pouco mais que 10% disso, apenas R$ 2,4 milhões para o Comitê Financeiro Nacional para Presidente da República).
Serra, segundo os delatores, recebeu tanto no Brasil quanto por meio de depósitos bancários realizados em contas no exterior.
A afirmação foi feita a procuradores da força-tarefa da operação Lava Jato e da PGR (Procuradoria-Geral da República). Nas planilhas da construtora, Serra é tratado pelos apelidos de “Vizinho” e “Careca”. O segundo por razões óbvias; O primeiro decorre do fato de Serra ter sido vizinho de Pedro Novis, presidente da empreiteira.
Na carta, Serra afirmou que a função de chanceler demanda viajar muito de avião – o que seus médicos desaconselham – mas informa que voltará a exercer seu cargo como senador no Congresso. Ora, chanceler não voa de classe econômica. Não fica devendo nada à poltrona de senador.
A coluna cervical de José Serra suporta que ele fique sentado no Congresso como senador, mas dentro de um avião como chanceler não? Algum quiroprático se arrisca a responder?