Para a direita, o depoimento de Emílio Odebrecht na Lava Jato não poderia ser mais frustrante.
Emílio comandou a Odebrecht até 2002, quando foi substituído na direção executiva por seu filho Marcelo.
De lá para cá, preside apenas o Conselho de Administração. Ele falou na condição de testemunha arrolada pela defesa de Marcelo.
Emílio disse tudo que não querem ouvir os interessados na tese de que o PT inventou a corrupção.
Caixa 2, ou doação não contabilizada, afirmou, é uma coisa que existe desde tempos imemoriais. E todos os partidos — não apenas o PT — foram sempre beneficiados por elas.
Emílio Odebrecht disse ainda que não sabe se o “Italiano” que aparece nas planilhas de caixa 2 da empresa é ou não Palocci.
“Eu seria muito irresponsável se dissesse que é o Palocci”, afirmou. “Outros descendentes de italianos na Odebrecht também eram conhecidos assim.”
O depoimento foi por videoconferência. Na matéria que deu sobre o assunto, o Estadão disse que Moro decidira tratar o depoimento como sigiloso.
No pé do texto, porém, havia um vídeo vazado da fala. (Pausa para uma gargalhada.)
A imagem de Emílio não apareceu no vídeo, para “preservá-lo” — seja lá o que isso queira dizer. Você via apenas, em metade do vídeo, Moro e uma representante do Ministério Público. A outra metade mostrava só uma parede.
Moro não fez perguntas no início. Limitou-se a apresentar o depoimento. As questões, no começo, ficaram por conta da defesa de Marcelo Odebrecht.
Foi interessante ver Moro como ouvinte. A câmara não saiu dele. Moro parecia não prestar muita atenção. Folheava alguma coisa enquanto as perguntas eram feitas e respondidas.
Essa impressão se reforçou quando, no final, Moro tomou a palavra. Ele de cara perguntou a Odebrecht quando ele deixara a presidência executiva da companhia. Ela já dissera que fora entre 2001 e 2002.
A representante do MP também fez suas perguntas, que nada contribuíram para o conteúdo do depoimento. Ela pareceu achar estranho que donos de grandes empresas se encontrem com presidentes da República e ministros para tratar de assuntos diversos.
Emílio Odebrecht foi muito elogioso em relação a Palocci o tempo todo. Ele aproveitou a ocasião para desmentir que houvesse um “Departamento de Propinas” na empresa, ao contrário do que vem apregoando a imprensa.
A direita esperava uma bomba contra o PT, Lula, Dilma e Palocci. Não veio a bomba. Apenas a explanação cândida de um velho e rodado empresário sobre a vida como ela é. Nela os financiamentos de grandes corporações, contabilizados ou por fora, não são seletivos como os vazamentos da Lava Jato.
Alcançam — ou alcançavam — todo mundo, para desconsolo dos que construíram a narrativa segundo a qual a corrupção foi inventada pelo PT.