O desespero de Alckmin para conter o inevitável: a traição de Doria rumo ao Planalto. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 14 de março de 2017 às 16:19
"Te curto, mas não o suficiente"
“Te curto, mas não o suficiente”

 

Geraldo Alckmin está se vendo na incômoda posição de tentar cortar as asas do pupilo João Doria — asas dadas, politicamente, por ele mesmo.

Ao lançar Doria à prefeitura, um arrivista desprezado por cardeais como Alberto Goldman e FHC, Alckmin conseguiu tirar do jogo a turma de José Serra e Andrea Matarazzo.

O que não esperava era que o meninão crescesse na foto a ponto de virar, mais do que Geraldo, uma opção tucana para 2018.

Se existe algum dúvida sobre se Doria vai trair ou não o padrinho, basta ouvi-lo. Na semana passada, reiterou seu compromisso com Alckmin e garantiu que terminaria o mandato.

Em seguida, já repercutiu o factoide do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), que se declarou “impressionado” com a fama do gestor “até no interior do Piauí”. “Todo mundo quer saber quem é esse tal de Doria”, disse ele. Então tá.

Ontem, em entrevista a Kennedy Alencar, JD foi menos sutil. “Nada é irreversível, irrevogável, imutável, exceto a morte”, comentou sobre suas intenções. Dado o recado.

Não que exista isso entre políticos, mas se você quer uma demonstração do caráter volátil de Doria e da importância que ele confere à fidelidade, basta lembrar da velocidade com que apagou os vestígios de sua amizade imortal com Eike Batista e Sérgio Cabral nas redes sociais.

Tentando correr atrás do prejuízo, Alckmin, que empatou tecnicamente com Dilma na última pesquisa da CNT, já acusou o movimento dorianista de “ansiedade” e apareceu no Estadão defendendo prévias no PSDB.

A situação é tão triste que ele se sujeita a aparecer de papagaio de pirata de Doria num evento do Corujão da Saúde (tente achar o governador no vídeo abaixo).

O fator Aécio ainda tem de ser considerado, mas o Mineirinho tende a ser soterrado pelas delações e pelo conjunto da obra, ainda que protegido por Gilmares e tarjas pretas.

As forças por trás do golpe precisam de um nome anti Lula para as próximas eleições. Uma direita de banho tomado, não a cavalgadura imprevisível de Jair Bolsonaro.

A essa altura, enquanto faz mais um jabá, João Doria está pensando na história que vai contar quando passar uma rasteira no antigo mentor.