Tudo de ruim que aparece contra Aécio nas delações tem o sabor de justiça poética.
É o caso dos 50 milhões de reais que Marcelo Odebrecht afirmou que Aécio recebeu por conta da construção de uma usina em Rondônia.
Foi em 2007, quando Aécio era governador de Minas. Os 50 milhões de reais, em valores de hoje, são 90.
Foi a Folha que deu o furo. Mas deu de uma forma miserável. Escondeu a notícia na primeira página.
É parte do jornalismo de guerra da Folha e demais veículos da grande imprensa: você dá com estardalhaço coisas negativas sobre seus inimigos. E ou não dá ou dá bem escondidas coisas negativas para os amigos.
Duas vezes, num texto que não é tão longo assim, os autores da matéria fizeram questão de dizer que Marcelo não usara a palavra “propina”, mas repasse.
Mas os repassadores — pausa para rir — deixaram claro que queriam retribuições. Não existe almoço grátis, sabemos todos, e muito menos repasses daquele tamanho. (A Odebrecht entrou com 30 milhões e a Andrade Gutierrez com 20 milhões, segundo a delação.)
Ri sozinho diante da defesa de Aécio. (A alternativa era chorar.) Ele disse, em suma, que era uma tremenda de uma mentira, e que achava um absurdo publicar acusações de tamanha gravidade sem antes comprovar.
Ora, ora, ora.
Aécio, nas incontáveis vezes em que as denúncias eram contra o PT, jamais fez nenhuma restrição à publicação delas.
Ao contrário: sempre as amplificou e ajudou a dar ainda mais repercussão às acusações. Ele estava sempre pronto para atender a jornalistas em busca de comentários sobre delações contra o PT.
Se ele tivesse tido a decência de ponderar então o que fala agora, não estaria na situação de calamidade em que se encontra hoje.
Aécio se comporta como um canalha. E já faz tempo.
Ele foi o golpista número 1. Desde o primeiro momento, conhecidos os resultados da eleição presidencial, se dedicou a boicotar a democracia.
Jamais aceitou a derrota.
Com sua atitude, teve uma contribuição milionária para o golpe.
É uma ironia da história: seu avô Tancredo ajudou a reconstruir a democracia, no início dos anos 1980. Aécio ajudou, três décadas depois, a destruí-la.
Ele sempre teve a certeza de que estaria protegido de desconfortos em delações pela mídia amiga e por seus camaradas na Lava Jato. A imagem disso é a infame foto dele com Moro numa festa pouco tempo atrás, os rostos quase que colados, ambos sorrindo fraternalmente.
Os vazamentos seletivos, no mundo dos sonhos de Aécio, se perpetuariam até o fim da Lava Jato. E ele seria um candidato poderoso para a presidência em 2018.
Não foi isso que aconteceu. Aécio acabou também como vítima de um processo que iniciou.
Robespierre inaugurou a guilhotina e no final foi sua cabeça que rolou rumo ao cesto.
A cabeça de Aécio já está no cesto.