Dallagnol é o João Gordo das milícias golpistas, o traidor do movimento.
Heroi do MBL, Vem Pra Rua e afins até ontem, o procurador da República está sendo massacrado e em breve vai ser homenageado com um boneco do pixuleco por causa de seu livro “A Luta Contra a Corrupção”, lançado pela Sextante — a mesma de “O Código Da Vinci”, também de ficção.
Deltan pode ser bobo, mas não é louco e muito menos rasga dinheiro. O sujeito que comprou imóveis do Minha Casa Minha Vida para especular viu que podia faturar uns bons trocos nas livrarias com um relato sobre “bastidores da Lava Jato” e mandou ver.
Em meio a platitudes como “não vamos salvar a Pátria” (ora, não era essa a ideia?) e “sempre acreditei no poder da dedicação”, fica claro que ele nunca mais foi o mesmo depois da patética apresentação do power point de Lula.
Foi um marco. Esperava-se um estrondo, a bomba que desbarataria a “ORCRIM” e o que se ouviu foi um suspiro seguindo de constrangimento e condenação de antigos aliados.
“A repercussão negativa foi fruto de conjunção de fatores que deram espaço para uma interpretação equivocada das ações da força-tarefa”, diz ele. A decepção generalizada o “pegou de surpresa”.
Dallagnol caiu na real? Seja o que for, seus seguidores vivem ainda no módulo panela e não o perdoam.
Um trecho causou um curto circuito na legião de fãs indigentes mentais, aqueles que foram para as avenidas paulistas do Brasil com camisetas da CBF gritar contra a roubalheira bolivariana, crentes de que tirando a Dilma nos transformaríamos em Los Angeles.
Ele fala da famosa gravação do diálogo do delator Sergio Machado com Romero Jucá em que este último confessava a necessidade de “estancar a sangria” através de um “grande acordo nacional”, “com o Supremo, com tudo”.
Escreve Dallagnol:
“Em 12 de maio de 2016 o clima de instabilidade política levaria ao afastamento provisório da presidente Dilma pelo Senado Federal, mas não seria capaz de parar a Lava Jato. Ainda que esse fosse o plano. Apenas 11 dias depois, veio a público a gravação de uma conversa de março entre Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, e Romero Jucá, recém-empossado ministro do Planejamento e um dos principais líderes do PMDB”.
A conversa de Jucá e Machado veio a público naquele maio e Dallagnol, na ocasião, calou-se.
Podia ter se manifestado ali, podia ter acusado a manipulação, a farsa que estava sendo armada, inclusive, em seu nome. Iria mudar algo? Não, mas não se trata disso.
Preferiu seguir posando de paladino da justiça.
A próxima edição virá com um pedido de desculpas e com um capítulo sobre a descoberta de que, sem a Globo, nada seria possível.
Até lá, Dallagnol já terá virado um cisco no olho da história, como Joaquim Barbosa, desprezado por quem um dia o colocou num pedestal.