A liderança de Lula em todos os cenários para a disputa eleitoral de 2018 revela o fracasso do golpe.
Mas não só isso.
É a derrota da velha mídia.
A Globo é a expressão maior de um tipo de comunicação que ficou para trás, assim como, num passado mais distante, a carta já foi o caminho mais rápido e seguro da informação.
Nada superaria a pena de Pero Vaz de Caminha para comunicar a celebrar a descoberta de um novo mundo.
A Globo, com seus jornais, rádios e TV, era imbatível quando podia fazer a edição de um debate presidencial sem contestação.
Também podia confundir a população ao mostrar um comício das diretas já em São Paulo e dar a entender que se tratava de uma festa pelo aniversário da cidade.
Também podia mostrar o Brasil das belezas naturais, gigante por natureza, como a pororoca do Amazonas no tempo de Amaral Netto, e esconder a tortura que acontecia nos porões da ditadura.
Hoje não é mais assim.
A Globo deu, imediatamente começa a ser contestada, em tempo real, na internet.
Na véspera da greve geral, o principal jornal da emissora gastou mais de dois minutos de seu tempo com as gracinhas trocadas entre William Bonner, Renata Vasconcellos e Maria Júlia Coutinho, a MÁ-JÚ, e nem um segundo com a notícia de que estava sendo organizada a paralisação gigante.
Numa linguagem que eles acham moderna, inteligente e engraçada, disseram que a temperatura ia cair, mas William Bonner e Renata Vasconcelos não noticiaram que, naquele mesmo instante, já se sabia da decisão tomada em assembleias lotadas – com gente de carne e osso –, que deixaria a população das grandes cidades a pé.
No dia seguinte, era nítido o engessamento dos repórteres da cobertura da maior greve da história do Brasil, ocorrida na sexta-feira, dia 28.
Não podiam falar greve geral e tinham de dar ênfase ao papel dos sindicatos na organização da paralisação – se sindicato não liderar greve, quem vai liderar?
Em outros tempos, esse tipo de manipulação demoraria para ser debatido pelo grande público.
Agora é imediato.
O conluio que existe entre a Globo e uma autoridade menor da república, o juiz de primeira instância Sérgio Moro, produz estrago, é verdade.
Mas não dura tanto como no passado.
A leitura de grampos ilegais que procuravam destruir a imagem de Lula e Dilma e a apresentação com power point do procurador Dallagnol aconteceram há um ano, um pouco menos, mas parecem muito mais antigos.
São cenas que, relembradas, ainda causam repugnância nas pessoas que amam a Justiça e a decência cívica.
Mas, sob certo aspecto, já podem ser vistas como os discursos dos militares que pregavam o Ame-o ou Deixe-o ou as entrevistas do delegado Fleury.
Se você olhar atentamente para Bonner e Renata na bancada no Jornal Nacional, você já começa a ver neles a semelhança física com os militares ou o delegado.
Uns torturavam gente, os outros espancam os princípios do jornalismo.
No final das contas, o que fazem é a mesma coisa: defendem o interesse dos mais ricos.
É, em estado puro, o que se pode definir como plutocracia.
Se ainda alguém se surpreende quando vê Lula na dianteira das pesquisas para presidente, não pense que é por ele apenas.
É o tempo.
O Brasil é o País da desigualdade e o combate a ela é a ideia que faz do seu portador um homem invencível.
Nem um exército de Moro, Bonner e Renata Vasconcelos conseguem deter o espírito do tempo.
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PS: 1) O texto não menciona uma única vez o nome de Michel Temer. Este já está com o destino selado: será, para sempre, visto como um homem da estatura histórica de Joaquim Silvério dos Reis.
2) O golpe fracassou como instituto político, mas seus efeitos são vigorosos e, por enquanto, intactos: o massacre dos direitos sociais.