Vivemos tempos estranhíssimos. A novidade da vez – que nem é tão nova assim – é a teologia feminista.
Surgiu mais ou menos assim:
Mulheres feministas e evangélicas – uma pastora no meio, inclusive – resolvem dar uma nova interpretação à Bíblia – ele mesmo, o livro mais patriarcal da história da humanidade – e argumentam que a opressão cristã não se deve à religião em essência, mas ao contexto histórico em que ela se formou e chegou ao Brasil.
Vamos retomar o contexto: jesuítas doutrinando índios e estuprando índias, a subserviência da mulher pregada desde sempre como mandamento e Eva, a primeira mulher da mitologia judaico-cristã, como responsável pela existência do pecado no mundo.
Pronto, a piada era essa.
Como se não bastasse a bancada evangélica mais forte e destrutiva da história do país e a programação religiosa persistente em 80% dos canais abertos aos domingos, precisamos de um grupo de mulheres que tente unir cristianismo e feminismo: desgraça pouca é bobagem.
Às vezes é difícil ter sororidade.
O argumento da intolerância religiosa, ressalto, inclusive, é patético: não se fala em intolerância ao cristianismo em um país cuja laicidade é ferida todos os dias com crucifixos nos tribunais e pastores-deputados-estupradores, e onde terreiros de candomblé são invadidos e destruídos por cristãos de bem.
Ademais, o feminismo não cabe no cristianismo, por essência, e vice-versa.
A ideia de Deus como um homem branco, por si só, nos é um insulto.
A ideia de Eva como precursora das desgraças do mundo, um insulto ainda maior – e ninguém pode ou poderá desconsiderar as raízes míticas de qualquer religião que seja para moldá-la ao seu bel prazer.
O mais aconselhável é mudar de religião. Ou, como diria a poetisa contemporânea: cada um no seu quadrado.