Ana Paula do Vôlei não anda sozinha. Ela é multidão.
Ana Paula do Vôlei é um símbolo, um amálgama do que temos de pior: o jeitinho atávico, a democracia seletiva, a raiva de pobre disfarçada em discurso moralista, o analfabetismo político, o papo furado contra a corrupção exteriorizada.
Ancelmo Gois deu a nota em sua coluna no Globo.
“Uma ex-funcionária de uma empresa da qual Ana é sócia cobra uns R$ 16 mil em dívida trabalhista. Foi determinada a penhora do apartamento da ex-atleta no Leblon”, escreveu.
“Ana Paula, que vive nos EUA desde 2009 e até declarou voto em Trump, disse à Justiça que mora no apartamento e, com isso, conseguiu suspender temporariamente o leilão. A ex-funcionária dela vai recorrer”.
A quantia é irrisória perto do que ela amealhou em sua “carreira” — o ministro do STF Marco Aurélio destruiu essa palavra com sua decisão liberando Aécio Neves para o Senado — e perto do que faz parecer nas redes sociais com sua ostentação de uma american life.
Ainda assim, ela prefere inventar que mora no Rio de Janeiro.
Ana Paula é Rocha Loures, livre para cumprir prisão domiciliar no sábado, dia 1º, e que furou fila para ter acesso à tornozeleira eletrônica.
Um lote de vinte aparelhos deveria atender imediatamente aos detentos que os aguardavam para terem a chance de progressão de regime.
Foi diretamente para Rocha Loures.
Teria havido um acordo às pressas para quitar a dívida com a empresa que fornece o equipamento — que costuma, aliás, sair com defeito.
Como foi parar na perna de Rocha Loures antes da dos outros? Jamais saberemos.
Ana Paula é Aécio, que ignorou a ordem do STF de não exercer atividades parlamentares durante seu afastamento.
Ele não apenas recebeu líderes de seu partido e postou no Facebook imagens no Facebook, como assinou um documento interrompendo o mandato de um deputado federal do PSDB no Acre de modo a pôr um aliado no lugar.
Tudo às claras, num desafio de quem nunca teve problemas com a Justiça e não é agora que terá.
Ana Paula é Michel Temer, que mandou instalar no Palácio do Jaburu um muro de plantas para impedir que os visitantes sejam vistos. O tal “corredor verde” encobre a visão.
Ao invés de suspender os encontros com a vagabundagem, Michel dá esse truque. Numa estada recente em São Paulo, ele já havia mandado FHC e Tasso Jereissati entrarem pela cozinha do hotel para não ser avistados.
É o golpe no golpe, o desrespeito às leis por parte de quem pode desrespeitá-las, a pós-normalidade do impeachment fraudado.
Como diz aquele locutor chato dos jogos da seleção: Brazil, zil, zil…