Sérgio Moro ordenou o bloqueio de 10 milhões de reais de Lula. Deixou de fora uma camionete Ford F 1000, ano 1984.
Po quê? Apenas alegou “antiguidade do veículo, sem valor representativo”.
O Banco Central, porém, encontrou somente a quantia de R$ 606 mil em quatro contas no Banco do Brasil, Caixa e Itaú.
O carro tem um toque de sadismo, vingança e aleatoriedade que o juiz da Lava Jato não admite possuir.
Veja o critério para a condenação a nove anos e meio, que muitos atribuíram a uma schadenfreude com o defeito físico de Lula.
Questionado pelos advogados de Lula, Moro respondeu: “Ora, dosimetria da pena não é matemática, conforme já decidiu o Egrégio Supremo Tribunal Federal”.
O sequestro dos bens ocorre um dia depois de Lula confirmar sua candidatura.
O pedido foi feito foi em 4 de outubro de 2016 pelos procuradores de Curitiba, que queriam o bloquear a bagatela de 195 milhões de reais (!?!).
Esse valor foi calculado pelos dallagnois através de um percentual de até 3% em cima dos contratos da OAS nos governos petistas. Conta de chegada. Chute. PowerPoint.
Moro se queixou das “tentativas de intimidação” dos defensores de Lula. Não deveria. Sua posição institucional é superior.
A equipe de Cristiano Zanin Martins faz seu papel. As duas partes não estão no mesmo patamar. Não são antagonistas.
Ou não deveriam ser.
Moro afirmou que não expediu mandado de prisão cautelar de Lula porque isso “não deixa de envolver certos traumas”.
Segundo ele, a “prudência recomenda que se aguarde o julgamento pela Corte de Apelação” (ah, o passivo-agressivo).
Sua vontade, ao que tudo indica, era outra. Inconformado, resolveu fazer a maldade aos poucos.
É um erro para o qual Maquiavel alertou. “Quando você tiver de fazer algum mal a alguém, faça-o todo de uma só vez. A dor será intensa, mas apenas uma. Já o bem, faça-o em parcelas”, escreveu o florentino.
Moro tripudia sobre seu oponente a conta gotas e dá ração aos cachorros da extrema direita em sua aliança com a mídia.
Escreveu também Maquiavel: “O príncipe deve ser lento no crer e no agir, não se alarmar por si mesmo e proceder por forma equilibrada, com prudência e humanidade, buscando evitar que a excessiva confiança o torne incauto e a demasiada desconfiança o faça intolerável.”
Nenhum país suporta uma guerra empreendida por quem deveria oferecer equilíbrio e justiça. Os cidadãos — os normais — se cansam. Os tribunais superiores se constrangem.
Nosso Savonarola acabará na fogueira que preparou para o inimigo mortal. Mas, antes disso, destruirá mais um pouco do que resta do estado de direito no Brasil.