No circo de horrores do Brasil, a palhaçada é demais até para Tiririca. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 5 de agosto de 2017 às 8:48

Tiririca, nascido Francisco Everardo Oliveira Silva, se declarou desiludido com a política. Pensa em se aposentar.

Ele votou a favor da denúncia contra Michel Temer na Câmara: “Eu vim do povo, eu estou com o povo. Contra a corrupção, meu voto é não!”

Foi logo após o cantor Sergio Reis dar seu recado.

Tiririca olha para Wladimir Costa e se pergunta: como competir com isso?

Está no sétimo ano consecutivo de mandato. Contou ao Estadão que não tem o “jogo de cintura” exigido para exercer a política.

“Não vai mudar. O sistema é esse. É toma lá, dá cá”, afirmou.

Acha que a maioria dos parlamentares trabalha para atender interesses próprios e que há aqueles bem intencionados, mas que não conseguem trabalhar porque o “sistema” não deixa.

“A partir do exato momento que você entra, ou entra no esquema ou não faz. É uma mão lava a outra. Tu me faz um favor, que eu te faço um favor. Eu não trabalho dessa forma”, falou.

“Fiquei muito decepcionado com muita coisa que vi lá”.

Assíduo, aprovou apenas um projeto, aquele que inclui artes e atividades circenses na Lei Rouanet.

Segue a Broadcast:

Tiririca confessa que disputou o primeiro mandato, em 2010, apenas para tentar ganhar visibilidade como artista. Mudou de ideia quando foi eleito com 1,3 milhão de votos, o que o tornou o deputado mais votado do País.

“Aí disse: opa, espera aí. Teve voto de protesto, teve. Mas teve voto de pessoas que acreditam em mim. Não posso brincar com isso”, afirmou. À época, o deputado foi eleito ao usar o slogan “Pior do que está não fica” durante sua campanha. 

Em 2014, decidiu disputar reeleição “para provar que não estava de brincadeira e que fiz a diferença na política”. E foi reeleito com 1,016 milhão de votos.

Alguns analistas acreditam que é jogo de cena. 

Ele é o maior puxador de votos do PR e não pode correr riscos. Há três anos, levou outros dois deputados para a Câmara.

Na votação da reforma trabalhista, também desobedeceu a orientação partidária e foi contra.

O PR não apoiou o impeachment de Dilma, mas Tiririca, sim. “Senhor presidente, pelo meu país, meu voto é sim”, gritou para Eduardo Cunha. 

Não sofreu retaliação e nem sofrerá.

Ele voltou a fazer shows. O tema é sua vida. Viaja pelo país.

A decepção de Tiririca é teatro? É picaretagem? Ou é verdade?

Provavelmente, as duas coisas ou nenhuma delas. No novo normal brasileiro, em que um candidato a presidente se fantasia de gari, faz todo sentido um palhaço cansado da palhaçada dos profissionais no nosso circo de horrores.

Sergio Reis e Tiririca