Texto e fotos de Paulo Ermantino
Como em uma blitzkrieg, a quadrilha de Michel Temer que está ocupando o governo tem realizado sucessivos ataques ao povo brasileiro — e, agora, os povos indígenas são suas novas vítimas.
No dia 21 de agosto Temer fez seu primeiro ataque quando anulou a Reserva Indígena do Pico do Jaraguá na zona norte da cidade de São Paulo, reduzindo-a de de 532 hectares para menos de 3, com a publicação no Diário Oficial da União da portaria 683/17 do Ministério da Justiça.
Apenas dois dias depois foi desferido um novo golpe quando se extinguiu a Renca (Reserva Nacional do Cobre e seus Associados), uma reserva na Amazônia que como o próprio nome diz é rica em minérios como cobre, ferro e ouro, e tem uma área equivalente ao Espírito Santo na divisa dos estados do Pará e do Amapá.
Ambos os casos estão associados a tentativas de entregar as terras e os recursos naturais para a exploração de empresas privadas, como demostrou o ministro de Minas e Energia ao anunciar o fim da Renca a mineradoras canadenses cinco meses antes do anúncio oficial e com o cancelamento da reserva do Jaraguá após o governador de São Paulo Geraldo Alckmin assinar a lei que permite privatizar até mesmo áreas florestais.
Como essas ações causaram uma reação extremamente negativa, tanto no Brasil como em todo o mundo, para a questão da Renca a quadrilha em Brasília usou de toda a sua esperteza e como se fosse o plano mais brilhante do mundo, revogou o cancelamento da Renca e no mesmo dia liberou novamente a área para a exploração por mineradoras. E cá entre nós, o que a Samarco fez com Mariana e com o Rio Doce, levanta sérias questões.
Já para os guaranis do Pico do Jaraguá, Temer tem em Alckmin um parceiro do crime, e se Temer tem sua blitzkrieg, Alckmin não faz por menos e age como um governador de Vichy (regime francês que apoiou o nazismo), pois ambos tentam jogar os guaranis do Jaraguá em um limbo jurídico, com o Ministério da Justiça dizendo que o cancelamento deu-se porque a área “foi demarcada sem a participação do Estado de São Paulo na definição conjunta das formas de uso” e o governo estadual de Vichy diz que trata-se de um problema federal.
Assim este poderia ser o fim, a morte, para as cinco comunidades indígenas Tekoa Ytu, Tekoa Pyau, Tekoa Itakupe, Tekoa Itaendy, e Tekoa Itawera da Terra Indígena do Jaraguá, e transformá-la em mais um capítulo do holocausto indígena das Américas.
Mas nos perguntamos: será que essa esperteza, esse joguinho, será o suficiente para derrotar um povo que resiste há mais de 500 anos?
A resposta é um categórico não.
Pois desde o primeiro ataque de Temer os indígenas foram as ruas e protestaram contra a anulação da Reserva do Jaraguá. E quem esperava somente mais uma manifestação de rua, foi surpreendido com uma ação em que os indígenas ocuparam o escritório da Presidência da República em São Paulo no mesmo dia em que acampavam em frente ao Ministério da Justiça em Brasília.
Nesta semana, ocuparam o Pico do Jaraguá e prometeram cortar os sinais de TV, rádio e celular das torres de transmissão que ficam no local, mais uma vez reivindicando a revogação da portaria e a presença do governador ao local.
Como o governador Geraldo Alckmin não se dignou a deixar seu Palácio dos Bandeirantes (qualquer semelhança não é mera coincidência), o funcionamento das torres foi interrompido e mantido somente a iluminação do tráfego aéreo para que não causasse nenhum acidente.
Com essa nova ação, o governo do estado iniciou negociações e irá formar uma comissão intersecretarial para tratar das reivindicações. O que é uma vitória da causa indígena.
Mas todos sabemos que esta é somente uma etapa da luta, uma luta árdua que neste momento transforma a defesa da Renca e da Reserva Jaraguá na defesa de todos povos indígenas.
Assim, as palavras colocadas pelas lideranças Guarani na audiência com o ministro da Justiça Torquato Jardim em Brasília, deixa bem claro a situação: “Essa medida é genocida, assassina, ela gera sangue, ela gera morte. Nós vamos lutar com a nossa vida, ministro. Ao invés de anular a portaria, manda um trator lá, abre um buraco e enterra a gente, mas a gente não vai sair da terra”.
Aguyjevete pra quem luta! O Jaraguá é Guarani!