Magdulien Abaida lutava pelos direitos das mulheres de seu país. Foi presa e depois espancada
Magdulien Abaida é uma moça bonita de 25 anos, com uma história como ativista das forças rebeldes que derrubaram o ditador da Líbia Muamar Gadafi. Deveria estar, neste momento, desfrutando da glória de ter ajudado a revolução em seu país e batalhando para reconstruí-lo. Mas não é isso o que acontece. Magdulien fugiu e acabou de ter seu pedido de asilo acatado no Reino Unido.
Filha de um advogado, ela cresceu em Trípoli, a capital. Durante os protestos, foi ao Cairo e a Paris para organizar o envio de medicamentos e alimentos para os rebeldes. Quando Gadafi caiu, mudou-se de volta a Trípoli para lutar pelos direitos das mulheres na nova constituição, que estava sendo escrita. Magdulien estava preocupada com os fundamentalistas islâmicos. Em outubro do ano passado, Mustafa Abdul Jalil, a face mais conhecida entre os revoltosos, falou, em seu primeiro discurso, sobre sua proposta de facilitar aos homens que tivessem mais de uma mulher.
No meio do ano, numa visita à segunda maior cidade do país, Benghazi, onde participava de uma conferência, Magdulien foi presa por membros de uma das milícias que se espalharam pela Líbia. Eles a capturaram em seu quarto de hotel. Foi detida, libertada, e no dia seguinte presa novamente na base da milícia.
“Nós queríamos mais direitos, não a destruição dos direitos de metade da sociedade”, disse para a BBC. “Alguém entrou na minha cela e começou a me chutar. Me bateu com sua arma, dizendo: ‘Vou matar você e te enterrar num lugar que ninguém vai saber qual é’. Me chamou de espiã de Israel, puta e vagabunda’”.
Com marcas de espancamento e temendo ser assassinada, Magdulien voou para a Inglaterra em setembro.
Seu caso está longe de ser isolado. Segundo a Anistia Internacional, as milícias armadas estão descontroladas, prendendo e torturando quem eles querem. O novo ministro da Justiça, Salah Marghani, ex-advogado especializado em direitos humanos, declarou que a Líbia precisa por um fim nos abusos, particularmente em prisões e centros de detenção.
“É muito triste se colocar em risco pela revolução e, no final, você ter de ir embora porque seu país não é mais seguro”, afirma Magdulien, que continuará sua campanha — mas a partir da cidadezinha de Sunderland. “Todos estávamos unidos, trabalhando juntos, mas agora ficou difícil. Se eles me pegarem outra vez, tenho certeza de que não serei solta nunca mais”.