Esta reportagem é originalmente de 22 de outubro de 2017. Está sendo republicada por razões óbvias.
Em outubro de 2017, Olavo de Carvalho, guru da extrema direita no Brasil, conselheiro e ídolo de Jair Bolsonaro e pai espiritual de colunistas como Felipe Moura Brasil e Rodrigo Constantino, escreveu no Facebook sobre Guilherme Almeida.
Trata-se do herdeiro da empreiteira CR Almeida, fundada em 1958 por Cecílio do Rego Almeida, que prosperou na ditadura.
Ao morrer em 2008, Cecílio deixou uma fortuna de 5 bilhões de reais. Nos anos 90, ele foi acusado de encomendar grampos ilegais de antigos sócios e da grilagem de uma fazenda no Pará do tamanho da Bélgica e da Holanda juntas.
Desde 2016 a CR Almeida é investigada na Lava Jato, que apura um esquema de corrupção em obras de ferrovias federais.
“O senhor Almeida, malgrado toda a sua boa-vontade e a sua conhecida generosidade, não me ajudou sequer a mudar para os EUA, quanto mais a me sustentar neste país. Tudo o que ele fez foi ajudar uma prima dele, residente em Nova York, a comprar uma casa no Estado da Virginia, para fins de investimento. A dona me alugou a casa e, quando não pude mais pagar o aluguel, me enviou uma ordem de despejo (…). O senhor Almeida, condoído com a minha situação, me ofereceu então um empréstimo para pagar a entrada de um novo imóvel, mas não o aceitei (…). O senhor Almeida, de fato, me ajudou MUITO, mas não a me instalar ou a sobreviver nos EUA, e sim a mudar do Rio de Janeiro para Curitiba em 2003”, disse numa mensagem.
A primeira propriedade de Olavo de Carvalho nos Estados Unidos estava no nome de Maria Christina Almeida, prima de Guilherme, e tinha o valor de compra de US$ 183 mil (veja abaixo). Era localizada em Carson, no estado da Virgínia. A mudança se deu em 2005.
Qual a relação de Olavo com Guilherme?
O grupo de Curitiba
Por volta de 2003, Olavo fixou residência na capital do Paraná. Guilherme Almeida passou a frequentar seu instituto e virou o favorito entre seus 30 discípulos.
Eram duas aulas por semana. Os temas eram similares aos do Curso Online de Filosofia (COF) que Olavo faz hoje pela internet, cobrando R$ 60 por duas horas de aula.
Abrange de Psicologia até Método Filosófico, Moral, Religião e o que ele define como “auto-conhecimento”. Havia jantares, também.
“Eu acredito que o Guilherme era o melhor aluno do meu pai, com poder e influência. Ele o ajudou financeiramente. No dia que ele se mudou para os Estados Unidos, o Guilherme levou todos os familiares, o meu pai, as malas. Ao todo foram três carros ao aeroporto”, conta Heloísa de Carvalho, filha de Olavo.
“Dava muitos presentes. Depois, o Guilherme Almeida assessorou meus irmãos em Curitiba. Luiz Gonzaga, o Gugu, e meu outro irmão Davi de Carvalho permaneceram na cidade com os cursos. O Guilherme deu todo o suporte”.
A conexão romena
E como Olavo recebeu tanta ajuda de seus alunos ao longo da sua carreira? Como eles estabeleceram uma relação tão estreita?
Olavo de Carvalho é seguidor de um pensador chamado Andrei Plesu. Plesu é um conservador obcecado com a “decadência da sociedade ocidental”, que só pode ser salva através da política, da religião e da “meditação transcedental”.
Andrei Plesu foi ministro da Cultura romeno entre 1989 e 1991, além de ter atuado como ministro de Relações Exteriores entre 97 e 99. Olavo de Carvalho encontrou-se com Jerônimo Moscardo, embaixador brasileiro em Bucareste, na Romênia, em 1997.
Plesu e Olavo tiveram outro encontro na embaixada brasileira no ano seguinte. As informações foram registradas por ele mesmo em um documento em seu site oficial.
O filósofo Andrei Plesu tinha relações poligâmicas e projetos políticos que são considerados heréticos por outras correntes do cristianismo, do catolicismo e do protestantismo.
Frequentemente, o relacionamento entre os discípulos de Olavo de Carvalho era tão íntimo que ocorriam trocas de casais, afirmaram ex-alunos ao DCM. Olavo, segundo a filha, manteve relações poligâmicas até se fixar com a atual esposa, Roxane.
“Creio que a conexão do Olavo de Carvalho com os romenos e, ao mesmo tempo, sua admiração por Jair Bolsonaro são os pontos mais importantes nessa história. É necessário saber o que foi a Guarda de Ferro da Romênia e a relação do Olavo com organizações secretas como a maçonaria”, diz Caio Rossi, ex-colunista do site Mídia Sem Máscara, criado por Olavo, e antigo aluno de um dos cursos dele em São Paulo.
“Esses grupos criaram esquadrões da morte, que eram conhecidos como ‘camisas verdes’ do fascismo”.
Heloísa relata que fotografias de Guilherme Almeida e Olavo foram retiradas da internet após a publicação do deste artigo do DCM.
À época, eu entrei em contato com Guilherme Almeida. Não obtive resposta.