O momento mais revelador do colóquio entre Silvio Santos e José Celso Martinez Corrêa é quando este último lhe cobra generosidade ou algum senso de responsabilidade pública.
— Você é um homem super-rico, supergeneroso!, diz o dramaturgo.
— Eu tenho culpa de ser rico? Eu dei sorte, e daí? Você não deu ainda, problema teu, responde Silvio.
— A gente tem que pensar na cidade, cara. Eu tenho 80 anos e ele tem mais do que eu [Silvio tem 86]. Daqui a pouco a gente some do mapa. No entanto, a cidade fica. Você sabe disso.
— Eu não quero morrer. Não vou morrer, devolve o apresentador, enquanto os circunstantes se divertem.
Zé Celso estava tentando apelar para um sentimento que seu interlocutor não tem: o de que ele deveria devolver — ao menos pensar em devolver — ao lugar que o acolheu uma parte da fortuna que amealhou ali.
Em Nova York, para ficar apenas num exemplo, a sede da ONU está num terreno doado por John D. Rockefeller.
Mas Silvio é de outra cepa. O octogenário prefere se afundar numa grana que não vai usar e erguer “torres residenciais” vizinhas ao prédio reformado por Lina Bo Bardi onde fica o Teatro Oficina. A cara da plutocracia nacional.
O sujeito que aparece naquela reunião é o SS da vida real. Não o bufão do domingo, mas um milionário ordinário cujo única motivação é colecionar moedinhas.
Aos domigos, com sua peruca, uma certa incontinência verbal, o carisma, a nostalgia, é fácil esquecer que ele contratou um time de comentaristas que Mussolini não teria montado.
A conversa com Zé Celso, Doria e e Eduardo Suplicy (que não abriu a boca) mostra que, fora do personagem, existe somente um tio do pavê rico, vaidoso e falastrão, cercado de puxa sacos, que acha que vai durar para sempre.
O Brasil está na mão de gente desse tipo. Ha-hai.